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Mostrando postagens de novembro, 2022

O general democrata e outros contos fantásticos braZileiros

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  A essa altura da evolução da sociedade qualquer pessoa capaz de realizar um número mínimo de sinapses sabe que a extrema direita é uma fábrica de bizarrices. O trumpismo, sucedido pelo comunismo de Joe Biden, não deixa persistir qualquer dúvida disso. O exército imbecilizado que tranca ruas centrais de Porto Alegre há quase um mês, muito menos. A prefeitura de Sebastião Melo, ou melonaro, de acordo com a alcunha adotada na campanha de 2020, instada pelo Ministério Público, se manifestou dizendo que os movimentos são legítimos e democráticos. O que essa gente... estranha quer é quase uma incógnita. Uma hora é a realização de nova eleição, mas só presidencial; outra vez é a intervenção militar; chegaram a pedir uma intervenção federal no Exército; recentemente o pedido foi pela intervenção de um general vindo sabe-se lá de que rincão do universo. Se este general espiritual, extraterreno, virá em socorro a essa pobre gente desesperada não se sabe, mas há um outro general, em corpo ...

"É da minha natureza"

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  "Pessach: a travessia" é o nome de um romance escrito por Carlos Heitor Cony, lançado originalmente em 1967, ano em que se estruturava de forma definitiva o horror do regime instaurado pelo Golpe de Primeiro de Abril. Um ano depois, para lembrar, os militares baixaram o Ato Institucional nº 5, o mais poderoso, cruel e sanguinário instrumento legislativo da linha dura. É um livro fundamental para entender um pouco melhor o que foi aquele tempo, e digo isso ressaltando que ele foi escrito quando os piores momentos ainda estavam por vir.  O livro conta a história de Paulo Simões, na verdade Paulo Simon, de origem judaica, um escritor que transita entre a mediocridade e algum reconhecimento literário e é o retrato típico do sujeito politicamente alienado, que tem como única preocupação a sua própria satisfação. Por eventos inusitados que são construídos e descritos com a genialidade característica de Cony, Paulo acaba se engajando na resistência pela luta armada. Embora o panor...

Janja, uma Silva. Ou: mais uma sobre o amor

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  Parece que o amor da vênus platinada não era sincero. Bastou que o presidente Lula mexesse com os interesses da tchurma e começaram as críticas . Mas o poderoso mercado e seu temperamento sensível - pero no mucho - é assunto pra outro momento. O governo Lula recém começou, então não vamos alimentar crises exógenas desde já. O que importa falar agora é de maquiagem se diluindo. E de imagem sem maquiagem.  Janja se chama Rosângela, e já se chamava assim antes de assumir o forte, poderoso e belo nome Lula da Silva. E como Rosângela, ou Janja, o que ela preferir, se fez socióloga e militou pelos direitos das mulheres, dos animais, se filiou ao Partido dos Trabalhadores, construiu uma vida e uma carreira profissional e política.  Lula, antes de amorosamente emprestar o nome para a esposa, foi casado perto de meio século com dona Marisa Letícia. Não se sabe de nenhuma relação extraconjugal do presidente, mas, se se soubesse não mudaria grande coisa. O fato é que Lula é um hom...

Ah, mas o Daniel Alves não poderia ter sido convocado...

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  Há exatos 84 anos ocorria um evento que marcaria o início do Holocausto. Na noite de um dia como hoje, em 1938, milícias nazistas atacaram violentamente sinagogas, casas, estabelecimentos comerciais, hospitais e escolas judaicas por toda a Alemanha e em alguns pontos da Áustria e da Tchecoslováquia. O alto comando do Reich atribuiu o episódio a uma reação espontânea do povo alemão, em represália ao assassinato do diplomata Ernst vom Rath, em Paris, por um jovem judeu. Joseph Goebbels, o poderoso ministro da propaganda do regime nazista, desautorizou manifestações das forças oficiais, porém disse que caso ocorresem atos populares espontâneos, não deveriam se repelidos. Dias depois, outro prócer ariano, Hermann Göring, comandante da SA disse que se 200 judeus tivessem sido mortos (foram "somente" 91, segundo os dados oficiais), teria sido melhor do que os prejuízos materiais dos ataques. Alguns anos depois, uma ordem de Reinhard Heydrich, chefe do Departamento Central de ...

O couro vai comer. E não é no terreiro...

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  Djamila Ribeiro escreveu o Pequeno Manual Antirracista, livro que é pequeno apenas no nome e no tamanho, porque é um poderoso instrumento para nos orientar nas formas de combate ao racismo estrutural. Djamila é maravilhosa e a mim orgulharia muito ser digno de amarrar os cadarços dos seus tênis, ou desatar as suas sandálias, como diria João. O livro atende aos padrões modernos de leitura que exigem imediatismo. Há algum tempo fui advertido que deveria escrever textos mais curtos, porque, segundo o crítico, eu escrevo bem, mas ninguém tem tempo de ler coisas muito grandes, textões, na linguagem da hora. Há uma contradição nessa observação, porque se os textos são bem escritos, o tamanho não deveria ser um problema, mas resolvi me adaptar aos novos tempos, afinal, se as pessoas "não têm tempo" para textos grandes de gente que realmente escreve bem, imagina para mim, que apenas aspiro chegar lá algum dia.  De qualquer maneira, Mestre Gil já disse que a gente deve andar com fé,...

Bozelenski: a semiótica do golpe

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  Acho que não é mais necessário insistir na ideia de que o bolsonarismo é muito maior do que Jair Bolsonaro. Ou, melhor, talvez seja prudente voltar a essa pauta, porque a atenção das forças de resistência muitas vezes parece se perder na imagem messiânica de Bolsonaro e se deixar encantar pelo ilusionismo promovido por esta figura patética. Depois de mais de dois dias em que a atenção da grande mídia, e consequentemente de grande parte da população, se dividia entre a expectativa pela fala do atual presidente sobre a eleição e as manobras golpistas nas estradas, ele armou um circo, mobilizou a imprensa nacional e falou por cerca de dois minutos. Incrivelmente os/as analistas políticos compraram a ideia de que ele reconheceu, ainda que tacitamente, o resultado da eleição. Erro flagrante! Vamos analisar alguns pontos daquela primeira fala: "Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro." A primeira frase dá o tom do disc...

"Deus escreve certo por linhas tortas". Bolsonaro e as 4 linhas da Constituição

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  Bolsonaro falou finalmente. Ao contrário do que pode parecer, o pronunciamento foi importantíssimo. Foi importantíssimo não pelo que foi dito, mas pelas entrelinhas. Ninguém esperaria que parabenizasse a vitória de Lula, claro que ele não faria isso, mas alguém poderia esperar que ele reconhecesse a legitimidade da eleição, sob o argumento que os bolsonaristas da linha de frente já o tinham feito, então, para evitar o isolamento absoluto, Bolsonaro também se manifestaria nesse sentido. Não aconteceu, embora analistas entendam que ele fez isso tacitamente ao agradecer a votação e ao autorizar Ciro Nogueira a abrir o processo de transição.  Em primeiro lugar, o presidente não tem que autorizar ou desautorizar o processo de transição de governo, porque isso está determinado em lei ( https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/10/31/brasil-vem-fazendo-transicoes-de-governo-reguladas-por-lei-desde-2002 ). O que Bolsonaro fez foi simplesmente nomear Ciro Nogueira para coorden...