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Mostrando postagens de setembro, 2022

Por Deus, o Inferno

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  A foto que destaca esta crônica faria Hieronymus Bosch rever o seu Jardim das Delícias Terrenas, tal a estranheza das criaturas retratadas, e Dante Alighieri mandar pro prelo outra versão do seu Inferno, tal o veneno que escorre pelas suas cores. Dela talvez se pudesse dizer o mesmo que disse Heinze, hoje o "alemão do povo",  aos ruralistas naquela ocasião em que falou que o gabinete de Gilberto Carvalho no governo da presidenta Dilma aninhava " quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta ". Pensando bem, não dá pra dizer isso não, porque na foto falta muita gente que não presta. Mas uma coisa é certa: a imagem é uma espécie de registro instantâneo do (des)governo bolsonaro.  A Constituição da República diz que o Brasil é um estado laico. Não o braZil de Bolsonaro, que nomeia um ministro terrivelmente evangélico para o STF. O braZil de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que pelo judiciário eleitoral impede a candidatura à presidência de um sujeito que cu...

Votar ou rezar: a escolha é sua

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A Olívio Dutra nunca faltou coragem. Quando governou o RS, não fez o estado se submeter ao capital e à guerra fiscal e "mandou a Ford embora", como dizem os seus detratores. Ainda bem! A montadora foi instalada em Camaçari. A história, implacável, mostrou que Olívio tinha razão . Antes disso, à frente da prefeitura de Porto Alegre, já havia comprado uma briga gigantesca com as elites econômicas ao promover a encampação das empresas de ônibus. Depois ele mesmo reconheceu que deveria ter sido ainda mais radical .  Depois dos anos da Frente Popular, anos de Fórum Social Mundial e Orçamento Participativo, vieram governos de outras linhas. De esquerdistas arrependidos (e oportunistas), como Fogaça e Fortunati, passando por filhotes (ou netotes) da ditadura (Marchezan Júnior), chegamos a um governo que tenho por inqualificável, chefiado por um sujeito que se elegeu na onda do neofascismo à brasileira, carimbando na própria testa o apelido de Melonaro (melo + bolsonaro). A entrega d...

"Eu não sou obrigado a isso"

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 Conheci o Guilherme Arantes no começo dos anos 1980, quando ele foi, segundo muita gente, injustiçado por não ter vencido um festival da Globo . Se pensar na chatíssima interpretação da Lucinha Lins para a chatíssima Purpurina, talvez o troféu ficasse melhor com a (um pouquinho menos) chatíssima Planeta Água, do nosso Elton John brasileiro. Sim, o rapaz se definiu certa vez como algo tipo um Elton John brasileiro. Assim como o Paulo Ricardo é um Phill Collins de voz mais negra. Pretensão e água benta... O Guilherme Arantes nunca esteve na ponta da agulha do meu toca-discos, embora tenha algumas músicas bem legaizinhas, mas ontem ouvi uma entrevista do moço, que estava divulgando um show em Porto Alegre. Parafraseando o Coronel Kurtz: o horror! Depois de descrever o novo disco como uma coisa mais progressiva, com toques de barroco, ele advertiu o público que o show "não incorpora circunstância política". O que será que ele quis dizer com isso? Começou explicando que "os...

Virtudes

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Dias atrás, a ministra Rosa Weber assumiu a presidência do STF. Fez um belo discurso, em que a defesa da democracia, do estado de direito e das liberdades foram a tônica. Referiu fatos históricos e pessoas importantes da história brasileira, trouxe a épica grega e Cecília Meireles. Disse uma breve biografia própria, em que destacou os méritos da longa carreira no judiciário. Mulher culta e, acima de tudo, gaúcha. Ontem, 19 de setembro, Eduardo (ex) Leite, cantou o hino farroupilha na propaganda politica. Quando governador e postulante a representante da terceira via, para orgulho do povo gaúcho assumiu a própria homossexualidade em rede nacional.  Uma mulher na presidência da corte maior do país e um homem gay alcançando grande destaque no cenário político nacional. Onde está mesmo aquele Rio Grande preconceituoso, machista, homofóbico de que tanto falam os nossos detratores, inclusive certa gauchada traíra, que não valoriza as nossas tradições e não se orgulha da nossa história? Q...

O rei está nu! (Mas o general nunca tira a farda)

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  Ontem ouvi a entrevista do vice-presidente da república no programa Timeline da Rádio Gaúcha. Ou será que era o candidato ao senado? Não importa, porque o senhor Hamilton Mourão é, na verdade, e nunca deixará de ser, general. E, ao contrário do que se tenta dizer de vez em quando, ele é um general linha dura. Evidentemente eu sei que general, assim como juiz, promotor etc., é um cargo ou posto vitalício, ou seja, o sujeito continua sendo mesmo depois da aposentadoria, ou reforma, no caso do general. Tecnicamente, então, Mourão será general até morrer. Salvo seja promovido a marechal, o que não seria nada surpreendente. Mas o que quero dizer é que seja lá qual for o cargo ou função que  exerça, como a vice-presidência da república, continuará agindo como general. O homem deixa a caserna, mas a caserna não deixa o homem. A entrevista ficou no meio do caminho entre um festival de imbecilidades, uma prova de despreparo para a função pública e a reafirmação de uma visão truculen...

Roteiro do golpe: princesas à procura de um imbroxável, o coração do herói e o papagaio que separou o braZil de Portugal

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  Tenho ouvido de pessoas amigas que os militares não vão embarcar numa aventura golpista com Bolsonaro. Essas opiniões sempre vêm embasadas em argumentos sólidos, mas discordo. Vejo o golpe como uma possibilidade muito assustadora. E os sinais foram dados ontem, no Sete de Setembro bolsonarista.  Bolsonaro enquadrou as Forças Armadas quando decidiu que a parada militar não seria no espaço tradicional da avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Eu acho esses desfiles um espetáculo ridículo, mas eles são importantes na vida da caserna. E Bolsonaro levou o evento para Copacabana. Ou seja, escancarou a inversão (ou subversão) na hierarquia da farda: o capitão botou o generalato no bolso. Um dos argumentos usados por quem entende que os milicos não vão abraçar o golpe é que hoje não há mais espaço para isso, em função da repercussão negativa que teria mundo afora, e, ademais, não teria apoio de forças estrangeiras, como os Estados Unidos (Operação Condor e outros quetais). En...

Procura-se um fato novo. À direita e à esquerda

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 Ontem foi divulgada a mais recente pesquisa eleitoral feita pelo Ipec, por encomenda da Rede Globo. Segundo os/as analistas, ela aponta coisas interessantes, a começar pelo raríssimo fato dos números serem iguais na pesquisa induzida, em que o/a entrevistador/a informa os nomes, e na espontânea, em que a resposta é totalmente livre. Isso mostra que a informação da disputa centrada entre Lula e Bolsonaro está consolidada entre o eleitorado pesquisado. Os dados mais importantes, porém, estão relacionados ao desempenho dos dois candidatos. Lula se mantém estável em 44% das intenções de voto. Bolsonaro caiu de 32 para 31%. Mais interessante ainda é a análise qualitativa dos dados da pesquisa. Bolsonaro caiu entre a população que ganha até 2 salários mínimos, apesar de todas as manobras desesperadas do (des)governo, que despejou dinheiro em programas que "beneficiam" a população mais pobre. Parece que o povo está entendendo que esse "benefício" tem dia e hora para acaba...