Votar ou rezar: a escolha é sua



A Olívio Dutra nunca faltou coragem. Quando governou o RS, não fez o estado se submeter ao capital e à guerra fiscal e "mandou a Ford embora", como dizem os seus detratores. Ainda bem! A montadora foi instalada em Camaçari. A história, implacável, mostrou que Olívio tinha razão. Antes disso, à frente da prefeitura de Porto Alegre, já havia comprado uma briga gigantesca com as elites econômicas ao promover a encampação das empresas de ônibus. Depois ele mesmo reconheceu que deveria ter sido ainda mais radical

Depois dos anos da Frente Popular, anos de Fórum Social Mundial e Orçamento Participativo, vieram governos de outras linhas. De esquerdistas arrependidos (e oportunistas), como Fogaça e Fortunati, passando por filhotes (ou netotes) da ditadura (Marchezan Júnior), chegamos a um governo que tenho por inqualificável, chefiado por um sujeito que se elegeu na onda do neofascismo à brasileira, carimbando na própria testa o apelido de Melonaro (melo + bolsonaro).

A entrega dos parques e das áreas públicas da cidade à voracidade capitalista da iniciativa privada tem sido a marca do (des)governo Sebastião Melo. A supressão de direitos corre junto. Na área do transporte público, além de avançar sem piedade sobre o trabalho dos e das cobradoras de ônibus, gerando insegurança e desemprego, Melo conseguiu levar em frente uma antiga reivindicação dos barões do transporte, cancelando benefícios históricos e muito mais do que justos e necessários. Houve quem acreditasse que essa crueldade do prefeito, que prejudicou violentamente as pessoas mais necessitadas para favorecer o empresariado, faria o preço da passagem de ônibus cair. Caiu? Não!

Agora, Melo cancelou a franquia do passe no dia da eleição. Essa medida vai impossibilitar que muitas pessoas exerçam o direito ao voto, que é, também, um dever, o que significa dizer que terão prejuízos por todos os lados. Muita gente não acredita, mas há pessoas que não podem dispor do valor de uma ou duas passagens para se deslocar até o local de votação. Além disso, muitas que não têm essa dificuldade tão acentuada vão se sentir desestimuladas. "Votar por obrigação e ainda ter que pagar passagem pra isso? Não vou!" Resultado disso é a eleição de gente como Sebastião Melo. Se as pesquisas mostrassem o genocida que concorre à reeleição à frente, o capacho do bolsonarismo no paço municipal manteria a decisão?

Mas, estou sendo injusto, o prefeito é um sujeito democrático. Ele deu à população o direito de escolher entre votar e rezar. Segundo a jornalista Kelly Matos, Sebastião Melo disse que se a Câmara de Vereadores entender por unanimidade que pode substituir o passe livre na próxima Festa de Navegantes pelo primeiro turno da eleição, ele não vai se opor. Lembrou, porém, que haverá segundo turno, então o legislativo terá de achar outra data para compensar.

Melo é um lambe-botas do empresariado, entrega o patrimônio público à privatização, guilhotinando o direito das populações mais pobres de desfrutar da cidade. A exploração imobiliária avança ferozmente sobre o rio (o Guaíba é um rio!) e trata de deixar o sol brilhando apenas para o povo escolhido (e endinheirado). Agora o povo pobre deverá escolher se prefere pagar para votar ou para rezar. É a Porto Alegre dos 250 anos de oficialidade. Espero que no próximo domingo o eleitorado não esqueça o mal que faz elegendo esse tipo de gente. 

Apêndice: sobre o direito das pessoas à cidade, recomendo muito o trabalho que o Coletivo Catarse vem produzindo, particularmente as recentes produções sobre o Arroio Dilúvio. A propósito, parabéns para o Coletivo Catarse, que comemorou ontem 18 anos de grandes serviços prestados à sociedade. 

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