Sopa de letrinhas
Fiel à tradição sebastianista dos nossos "descobridores", o povo brasileiro elegeu Lula. Um velho clichê, a batida imagem da Fênix se encaixa bem aqui. Tendo sobrevivido a tudo, Lula era o único brasileiro capaz de fazer frente ao prosseguimento do inferno bolsonarista em que mergulhamos desde pelo menos junho de 2013. E aqui não vai nenhuma crítica negativa, já que neste fórum mesmo se podem ler alguns textos em defesa do ajuntamento feito em torno da causa de barrar Jair Bolsonaro e seu exército do mal (sim, adoro clichês e trocadilhos infames). Entretanto, também se podem ler algumas análises sobre os riscos de legitimar um governo de tendência à esquerda minado por gente de direita. Esses riscos começaram a se mostrar graves na primeira semana do governo, e quem se propuser a examinar com alguma independência o atentado de 8 de janeiro vai encontrar pontos controversos que comprovam esses riscos. Quem não tiver essa disposição, pode simplesmente passar os olhos pela nominata ministerial. De um lado temos gente do porte de Sílvio Almeida, Sônia Guajajara, Anielle Franco e Nísia Trindade, e também temos a recriação do Ministério da Cultura; de outro temos um sujeito como Juscelino Filho nas Comunicações e a presença de outros filhos (filhotes, talvez diria o velho Brizola), Jader, Renan e por aí vai. Isso sem falar na caserna, que é um verdadeiro campo minado (ah, os trocadilhos...). É um governo de coalizão, enfim.
Confesso que me assusta um certo distanciamento adotado pelo governo, sobretudo pelo próprio presidente, da questão família Bolsonaro. Há quem diga que não cabe a Lula chafurdar nessa lama publicamente e que deve deixar a coisa toda nas mãos e na caneta do Xandão. Xandão este que, não esqueçamos, foi o secretário que mandou descer a borracha na estudantada que ocupou as escolas em São Paulo. E isso não faz muito tempo. A propósito, o governador paulista nessa época era... Voltando aos crimes da famiglia, tenho que reconhecer que nesse caso por vezes deixo a ansiedade me dominar. Já li, vi e ouvi muitos juristas, dos bons, dizerem que o Judiciário está agindo com cautela e sabedoria, investigando tudo em minúcias e dando corda para que os próprios assassinos se enforquem. Os meus parcos conhecimentos jurídicos, porém, me dizem que já há elementos muito mais do que suficientes para botar os bolsonaros em cana até que atinjam a idade provecta. Provavelmente o patriarca não veja mais o sol livremente, caso seja preso agora. Mas há outros problemas e eles começaram a emergir de forma muito clara nos últimos dias, com o primeiro racha forte do emendamento governista.
A pauta ambiental foi linha de frente da campanha lulista. A bem verdade, era bastante óbvio que assim fosse, diante da desgraça que foi o desgoverno anterior (também) nessa área. E a presença de Marina Silva, com todas as restrições que podem ser opostas a ela, e tenho várias, era também uma obviedade. Ela é uma referência mundial no assunto. Pois agora, parece que a ministra é o marisco numa briga do rochedo com o mar. Quem será a rocha e quem será o mar nessa briga? Ibama, Petrobrás, Congresso, Centrão, ruralistas e os interesses mais diversos que estão por trás dessa briga são as peças desse jogo.
O governo Lula se meteu nesse labririnto e terá de arrumar um jeito de achar a saída. Ao povo brasileiro, pelo menos à parcela que fez o L, parece que se apresenta uma espécie de brincadeira com letras. Que letras virão depois desse L, ula ou ira? Na sequência do governo, seremos BraSil ou continuaremos a ser braZil?
Só pra não perder o fio da história, já que tudo deságua no mercado, alguém tem notícias do chicago boy?
*Imagem de destaque editada a partir de original publicado em https://www.infomoney.com.br/politica/lira-ve-bolsonaro-como-continuidade-e-diz-que-pais-perderia-tempo-enquanto-lula-monta-coalizao/. (Acesso em 25/5/2023).
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