Aqui não é México!! Mas poderia ser...
Estamos em guerra! Leste europeu, Faixa de Gaza, Síria, África, favelas cariocas, periferia paulistana, carnaval de rua porto-alegrense, sim estamos em guerra. Em todos os lugares. A escalada da violência neofascista mundo afora não nos permite deixar de constatar que estamos em guerra. Quando é que nós, Brasil, vamos começar a reagir?
Continuo com a impressão que a eleição de Lula em 2022 teve um efeito duplo. Ao mesmo tempo em que livrou o país da desgraça que seria um segundo mandato de Jair Bolsonaro, fez o povo mergulhar num estado de letargia absoluta, como se tudo estivesse resolvido. A reação do bolsofascismo à derrota nas urnas não foi suficiente para nos fazer acordar desse sonho. Num desdobramento desse efeito ruim da eleição, criticar o governo virou algo proibido e motivo para ser acusado de estar fazendo o jogo da extrema direita.
Não há amadores na linha de frente da política, e o PT, que está a muitos quilômetros de ser um partido verdadeiramente de esquerda, sabe muito bem trabalhar esse discurso da pureza ideológica. Lula é um dos maiores agentes políticos da história brasileira e a estrutura que o PT criou ao longo de quase meio século de existência é um fenômeno digno de estudo. Existe um aparato grande, forte e sólido em torno do PT e de Lula, que atua na mídia, especialmente nos canais digitais, construindo uma ideia que a única possibilidade para evitar a volta do bolsonarismo é o próprio Lula. O pavor que se espalha na população a partir dessa narrativa consolida essa perspectiva, que acaba se tornando incontornável quando já restam menos dois anos antes da próxima eleição. Está chegando o momento em que será preciso fomentar o discurso: "Não gosta do Lula? Tudo bem, mas quem vai barrar o bolsonarismo?" Parece inevitável que sejamos empurrados para essa armadilha uma vez mais. Por que um partido do tamanho do PT não consegue construir nomes que possam dar continuidade e sobretudo aperfeiçoar o trabalho de Lula? Por que o largo espectro político que acompanha o PT, que vai desde partidos que de tão centrais já estão quase à direita (ninguém vai me convencer que Geraldo Alckmin é comunista), até setores um pouco mais ortodoxos da esquerda, não consegue apresentar nomes de referência no cenário nacional? Será que o verbo que usei nessa duas últimas perguntas deveria ser substituído? Em vez de conseguir deveria usar querer?
Quando foi a última vez que as ruas foram tomadas por gente que não era bolsonarista? Em 2016 (e já lá vão quase dez anos) houve algumas manifestações respeitáveis contra o golpe, mas não podemos deixar de dizer que alguns partidos de esquerda estavam do outro lado, apoiando a queda da presidenta, por razões ainda hoje não muito bem explicadas. Teria, por exemplo, o PSol agido de forma oportunista, pensando que a queda de Dilma representaria o fim do PT e o espaço de maior partido de esquerda ficaria vago? É uma possibilidade.
Por outro lado, durante os quatro anos em que o governo nazifascista da milícia bolsonarista trabalhou para destruir o país, por que as ruas não foram tomadas pela resistência, salvo em momentos muito específicos e sem nenhuma continuidade? Há quem diga que o PT, maior partido de esquerda do Brasil não tem interesse em levar o povo às ruas, já que da última vez em que isso aconteceu massivamente o governo caiu. Mas e a base popular que construiu o PT, os movimentos sociais, as centrais sindicais, o MST, as categorias médias do serviço público, onde está essa gente?
Hoje corre a notícia de uma aproximação forte de Guilherme Boulos com a estrutura ministerial do governo. Talvez seja um sinal de que o próprio Lula esteja percebendo que voltar às bases é o único caminho. Gleisi Hoffmann, gostem dela ou não, é, em tese, um nome à esquerda do PT, muito mais do que o (ex?) ungido de Lula, Fernando Haddad, e começa a ter um destaque maior no primeiro escalão para além do próprio partido. Boas notícias? Talvez, mas isso tudo vai ser inútil se o povo não acordar. Ainda ontem era natal e a cerimônia do Oscar já foi há uma semana. O tempo voa mais do que corre. Outubro de 2026 chega ligeirinho. Já é passada a hora de reagir. O povo tem que voltar às ruas!
Mas e o México? A matéria lincada na imagem de destaque é autoexplicativa.
*Imagem de destaque: montagem feita pelo autor a partir de imagens obtidas em https://iclnoticias.com.br/apos-ataques-de-trump-mexicanos-ato/. Acesso em 10/3/2025.
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