Pequenos homens, grandes golpes


 

Escrevendo no calor dos acontecimentos, Karl Marx fez o registro do golpe de Luís Bonaparte, que adotou o nome Napoleão III em homenagem ao seu tio, que alguns anos antes também havia perpetrado um golpe, pondo fim à Revolução Francesa. 

Marx, como se sabe, foi leitor e crítico de outro filósofo alemão, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, e complementou um dos pensamentos fundamentais do seu conterrâneo justamente no "18 do Brumário de Luís Bonaparte". Hegel havia dito que "todos os grandes fatos e personagens da história universal  aparecem como que duas vezes", ao que Marx acrescentou: "da primeira como tragédia e depois como farsa". 

Pensando sobre a história do Brasil desde que os portugueses nos "descobriram", vemos que o velho Marx estava certo. A história deste país tropical, em que se plantando tudo dá, é construída sobre golpes, a começar pelo próprio "descobrimento", que nos fez acreditar, e a muitos ainda hoje, que a frota cabralina chegou aqui por acaso e, pior que isso, que essa chegada trouxe civilização a uma terra selvagem. Depois disso, os próceres da nação, que parece nunca ter se constituído como tal, sempre estiveram às voltas com conspirações e armações golpistas. 

Mas não vou me perder em longas digressões, importa aqui pegar um elemento da denúncia apresentada pelo PGR ontem. O grande pivô é um sujeito de baixa estatura (física e moral) e com pedigree militar, Mauro César Barbosa Cid. Baixos, ele e o general Augusto HELENO Ribeiro Pereira, tal como o Napoleão da tragédia, são golpistas de nascença. Não li ainda o texto integral, mas pesquisando pelo ctrl + f, o nome deste general aparece 26 vezes. Mas será que é a primeira vez que este homem baixo aparece na história como um grande golpista?

Em 1977, o então ministro do exército do governo Geisel, Sylvio Frota, honrando a melhor tradição da caserna, tentou dar um golpe dentro golpe e barrar o processo de abertura política que levaria ao fim da ditadura militar alguns anos depois. Frota tinha o seu mauro cid, Augusto Heleno, cuja patente era capitão. Naquela ocasião, o (ex) histriônico militar, que era capacho, ops, ajudante de ordens do ministro, atuou apenas como motorista. A viatura que dirigia deveria levar os milicos (ainda mais) golpistas para tomar o poder à força, mas alguns colegas de farda sabotaram a intentona (medo, conveniência, não saberemos).

Apenas para registrar mais um ponto do brilhante currículo fascista do baixinho golpista, durante o primeiro governo Lula - durante o primeiro governo Lula - Heleno chefiou a assassina missão brasileira no Haiti.  

Assim, se comprova o dito popular, tamanho não é documento.

Esperamos que com meio século de atraso, este sanguinário general, cuja capacidade de fazer o mal é inversamente proporcional à altura, seja condenado a pagar pelos crimes que cometeu em tempos recentes, já que dos antigos a anistia torta se encarregou de liberar. Augusto Heleno, Jair Bolsonaro e todo o esquadrão criminoso que por pouco não implementou com sucesso mais um golpe na história do Brasil devem mofar e morrer, de preferência depois de longos anos, na cadeia. Isso de fato acontecerá? Eu ainda tenho fortes dúvidas, mas a apresentação da denúncia já é um passo, que eu, sinceramente, pensei que não seria dado. 

Que a História seja grande, já que os golpistas não são. 

*Imagem de destaque: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=713095647052861&id=100050572955924&set=a.187075742988190. Acesso em 19/2/2025.

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