A América para os americanos de novo! (E o braZil também...)
Por volta das 6 horas da manhã, horário do Brasil, já se anunciava como irreversível a vitória de Donald Trump. E, ao contrário do que as análises e prognósticos apontavam, com margem grande de tranquilidade. E mesmo que nos EUA o presidente de fato governe, ao contrário do que acontece no Brasil, o congresso também vai ter maioria republicana, o que é ainda mais preocupante, porque isso facilita muito as coisas para o fascista.
Mas que razões teríamos para esperar que a eleição de Kamala Harris, mulher e negra, faria arrefecer a sanha imperialista estadunidense? As mesmas que nos levaram a acreditar que Barack Obama, negro e de nome árabe, cumpriria a promessa de campanha e desativaria a prisão de Guantánamo? Essas são questões que parecem bastante distantes da nossa realidade, embora não sejam, então, importa saber, na verdade, que impacto tem a eleição de Donald Trump na vida do povo brasileiro.
Recolhi notícias de três portais de grandes veículos de imprensa sobre as felicitações que Trump recebeu de lideranças mundiais:
https://www.terra.com.br/noticias/lideres-internacionais-parabenizam-donald-trump-pela-vitoria,1486138135657ce22598786d6aa9fc45j5f6692a.html
Elon Musk e até o presidente da FIFA, Gianni Infantino, são citados. Entre essas lideranças, destaca-se, pelo Brasil, a palavra de Jair Bolsonaro, que foi protegido durante pelo menos 5 anos pela advocacia privada da Procuradoria-Geral da República. (O tempo verbal estará correto? Será que Bolsonaro FOI ou será que É protegido pela PGR?) E será que isso quer dizer alguma coisa? Enquanto os votos eram contados, Eduardo Bolsonaro, o filho número zero três, estava na casa de Trump. Bia Kicis (PL-DF), Rodrigo Valadares (União-SE), Mayra Pinheiro (PL-CE) ,Gilson Machado (PL-PE), Carlos Portinho (PL-RJ) e outros bolsonaristas-raiz foram convidados pelo Partido Republicano de Donald Trump para participar da festa.
Paralelamente, a frente ampla que governa o Brasil vê despencar os índices de popularidade. Lula, cada vez mais refém do "mercado" e de um Congresso em franco estado de putrefação, se mostra incapaz de implementar as políticas pelas quais foi eleito e cede cada vez mais terreno aos parceiros eleitorais. Enquanto a equipe econômica, liderada pelo neoliberal (?) Fernando Haddad, propõe um pacote de ataques ao povo, Lula se reúne com banqueiros para discutir a política de juros e, para surpresa de ninguém, é elogiado por eles. Antes de seguir, peço desculpas por "abraçar o discurso da extrema direita", que é, enfim, o que faz quem ousa criticar o governo.
Seguindo no meu discurso "à direita", pergunto: quantas vezes, desde 1º de janeiro de 2023, Lula se reuniu com lideranças do MST, o maior movimento social do país, responsável por boa parte da comida que chega nos pratos do povo brasileiro? Qual a política efetiva do governo para a área da educação? Onde está a prometida revisão das reformas trabalhista e previdenciária? Por que estão vazias as ruas que deveriam levar milhões de pessoas Brasil afora e adentro para exigir a prisão de Jair Bolsonaro e dos generais golpistas?
Evidentemente reconheço a necessidade de saudar o direito que tenho eu, que não sou ninguém na ordem do dia, de escrever as coisas que escrevo e disponibilizar para que o mundo leia. Se este mundo se restringe a mim e mais duas ou três pessoas, ainda assim devo agradecer a chance de fazer isso, que se deve à eleição de Lula, porque se o resultado do pleito presidencial de 2022 fosse outro, esse direito já teria sido cortado. Só que o andar da carruagem cada vez mais me convence que esse é um direito que tem dia e hora pra acabar. A eleição de Donald Trump só vem consolidar essa perspectiva. Os bolsonaros, em especial o patriarca, se agigantam com o resultado estadunidense.
Teremos anos de recrudescimento do racismo, da xenofobia, da perseguição a grupos sociais hegemonicamente minoritários (mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIAP+, imigrantes, "comunistas" etc.). Nesse quadro, a volta de Bolsonaro é questão de tempo. Enquanto as forças democráticas brasileiras não despertarem do sonho sebastianista de que Lula sozinho vai levar o país ao paraíso, contando apenas com a ajuda do SuperXandão; enquanto as análises políticas de gente "progressista" continuarem vendendo a ilusão de que as instituições republicanas funcionam e vão agir; enquanto esses mesmos analistas direcionarem toda a sua raiva adesista aos que criticam as políticas neoliberais do governo, deixando passar ao largo o debate que interessa; enquanto o povo continuar acreditando que a direita "rachou"; o fascismo, como cadela permanentemente no cio, se rearticula em torno de Jair Messias Bolsonaro, que está firme e forte e virá com tudo em 2026.
*Imagem de destaque: https://www.poder360.com.br/internacional/vitoria-de-trump-asfalta-caminho-para-o-brasil-diz-eduardo/. Acesso em 6/11/2024.
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