O mal. Ou o que a arte pode nos ensinar sobre política
Não vou pedir que os representantes das nossas instituições republicanas (?), inclusos os partidos políticos do chamado campo democrático, leiam Bram Stocker. Nesses tempos bicudos, querer que alguém leia algo mais do que manchetes é no mínimo ilusão romântica. Mas poderiam pelo menos sentar a bunda na frente da TV ou de equipamento equivalente, e assistir aos filmes de vampiro. Se acharem o Bela Lugosi ou o Christopher Lee chatos (sim, já ouvi isso), e o Gary Oldman muito pesado, vão na série Crepúsculo mesmo. É fraquinha, mas cumpre o papel. Se ainda assim a tarefa for muito difícil, apenas ouçam Raulzito quando ele diz que "tem gente que passa a vida inteira travando a inútil luta com os galhos, sem saber que é lá no tronco que tá o coringa do baralho".
Jair Bolsonaro está aí, livre, leve e solto, e já se livrou de uma das condenações à inelegibilidade. Logo vai resolver a outra. Junto com isso, a gente vê uma série de ataques ao ministro Alexandre de Moraes, de muito eleito pelo bolsonarismo como o principal adversário no campo institucional. O que estará por trás das reportagens da Folha que tentam destruir a imagem do ministro e rebaixá-lo ao mesmo nível de Sérgio Moro e seus asseclas lavajatistas? E por que um dos jornalistas responsáveis pela "investigação" é ninguém menos do que Glenn Greenwald, que já foi uma espécie de ídolo da esquerda por conta da Vaza-Jato, e, portanto, é figura acima de qualquer suspeita? Poderia evocar novamente Raulzito e dizer que até parece sério, mas é tudo armação.
O que isso tudo tem a ver com histórias de vampiros? As lendas sobre esses seres diabólicos dizem que há uma única forma de matá-los, cravando uma estaca no coração. Um dos líderes do clã de vampiros chefiados por Jair Bolsonaro disse nos últimos dias que a única direita no Brasil é Bolsonaro, o pai. Disse isso para atacar o bolsonarista velocidade 5 do créu Pablo Marçal, que, como se vê, além de criminoso golpista condenado e apenado, consegue a façanha de ser ao mesmo tempo uma ameaça a nós e à própria extrema direita. Antes de 2018, alguém imaginava que Jair Bolsonaro teria chance de ser eleito presidente? Eu faço um mea culpa para dizer que desdenhei dessa possibilidade. Deu no que deu. É absurdo, então, pensar que Pablo Marçal pode se eleger prefeito de São Paulo na esteira do bolsonarismo? Acredito que isso não vai acontecer exatamente pela fogueira de vaidades da familícia, que não aceita nenhuma estrela fora do clã. Mas e Bolsonaro? Por que ele ainda não está preso? E reparem que nem estou falando dos filhos e dos compadres, apenas do chefe, que parece ser tão imortal quanto o velho conde romeno, que, à semelhança dos bolsonaros, também professava uma fé inquebrantável na Igreja.
O PGR de Lula já tem provas muito mais do que suficientes para denunciar Jair Bolsonaro por uma série de crimes que gabarita o Código Penal. Mais do que isso, são fatos públicos e notórios, que, à luz do direito, dispensam mesmo as provas. Entretanto, Paulo Gonet já disse que vai esperar as eleições municipais para decidir o que fazer a respeito de Bolsonaro. Segundo a autoridade mais poderosa do Brasil, as acusações contra Bolsonaro poderão interferir em candidatos bolsonaristas. Alguém poderia simplesmente dizer: "quem mandou serem bolsonaristas?". Mas o tempo da justiça não é o mesmo tempo da política. Essa é uma máxima que vem sendo dita há tempos, subvertendo os princípios iluministas da divisão dos poderes republicanos. As instituições não deveriam ser autônomas? Por que há de se esperar o tempo da política para determinar o tempo da justiça? Por trás de uma máscara de cautela e de uma postura de estadista, Paulo Gonet parece estar na verdade comprometido com os interesses bolsonaristas, que passam pela liberação de Jair Bolsonaro para concorrer à presidência da república em 2026. E parece que este é o caminho de mão única.
Jair Messias Bolsonaro é muito pior do que qualquer vampiro jamais sonhado pelos maiores gênios da literatura e das artes em geral, mas se não lhe cravarem uma estaca no peito, matando o mal pela raiz, eliminando o líder messiânico do mal e começando a fazer ruir todo o sistema bolsonarista, que outra coisa não é além da expressão braZileira da extrema direita neofascista transnacional, estaremos nós condenados à danação sem fim já na próxima eleição presidencial.
*Imagem de destaque: https://bemblogado.com.br/site/os-bolsonaro-sempre-foram-os-representantes-ideologicos-dos-grupos-milicianos-diz-pesquisador/. Acesso em 22/8/2024.
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