24 segundos: ou a volta dos que não foram - NÃO AO PL 1904/2024! (atualizado em 14/6/2024)
30 de outubro de 2022, o povo foi às ruas, a festa tomou conta do Brasil. Na verdade, uma metade do povo comemorava; a outra metade chorava de tristeza e raiva. Lula estava eleito, a democracia estava salva, era o fim de Jair Bolsonaro. O Primeiro de Janeiro seguinte seria lindo, com a pluralidade e a diversidade brasileira subindo a rampa do Planalto de mãos dadas com o nosso Dom Sebastião, que na versão terra brasilis não voltava da guerra, mas da prisão para redimir o povo.
Corta para hoje, 13 de junho, dia de Santo Antônio, um ano e meio de governo redentor. A Câmara Federal precisa apenas de 24 segundos para votar o requerimento de urgência de um projeto que transforma as mulheres estupradas, inclusive adolescentes e crianças, em criminosas muito mais perigosas do que os seus estupradores. E o governo diante disso? "GOVERNO NÃO SE ENVOLVE NO PROJETO: Há uma avaliação que é preciso focar as matérias da agenda econômica, que são prioritárias para o Palácio do Planalto. Além disso, parlamentares governistas dizem que o Executivo não quis se indispor com a bancada evangélica, já que defendem uma aproximação do Planalto com o segmento."
Qual será a agenda econômica do governo salvador que se sobrepõe ao combate da defesa dos estupradores feita pela extrema direita? Isso não está bem claro, mas o que todo mundo sabe é que a taxação dos milionários, que de fato abriria um caminho para a justiça social no país, não está nessa agenda. A agenda econômica do terceiro governo-a-meio-passo-do-neoliberalismo de Lula, o quinto do PT (ou quarto e meio, considerando o golpe de 2016) é uma agenda que atende minimamente aos interesses da sociedade, sobretudo com a manutenção e reforço de alguns programas sociais, e maximamente os interesses dos extremamente ricos, ditados pelas políticas de um senhor de nome pesado e com pedigree que agrada ao mercado, Roberto de Oliveira Campos Neto.
Entretanto, não é só, há algo tão ruim quanto, que é o beija-mão do governo no neopentecostalismo. Há dirigentes religiosos sérios nas igrejas evangélicas. Sinto dizer, porém, que são poucos, pouquíssimos. Esses não votam na extrema direita e muito menos obrigam os seus rebanhos a votar. O problema são os outros. A grande massa dos seguidores de Silas Malafaia, Edir Macedo, Marco Feliciano, Magno Malta etc. sempre foi fechada com o nazi-fascismo que elegeu Messias Bolsonaro. E aqui chego no ponto central do que quero trazer para o debate. Jair Bolsonaro não está morto e nem fora de combate, mesmo com as pilhas de depoimentos e delações do ex-capacho oficial Mauro Cid. (A propósito, vem mais uma por aí.) Nem o lavajatismo acabou. Recentemente, Sérgio Moro foi absolvido pelo TSE, e a cassação era certa. Semana passada Bolsonaro teve uma das suas inelegibilidades anulada, e era certo o seu banimento da política. E a esquerda (exquerda?) brasileira segue acreditando na "eficiência" de Paulo Gonet e achando que Alexandre de Moraes é o herói do povo.
Quando o povo vai entender que a única maneira de evitar que Bolsonaro volte ao poder é indo às ruas? O momento de Lula salvar a pátria já passou. E ele não salvou. Na melhor das hipóteses a eleição de Lula deu umas férias remuneradas a Jair Bolsonaro, mas a política que está sendo feita pelo governo, que parece ter como principal preocupação a sua própria manutenção no poder, que o obriga a estender o tapete para um congresso corrupto e assassino para não ser impitmado, vai trazer Bolsonaro de volta em 2027.
Qualquer pessoa minimamente atualizada sobre a política brasileira sabia que o primeiro semestre de 2024 seria marcado pela votação de pautas-bomba no congresso. Qual o objetivo dessas pautas? O projeto assassino que defende os estupradores não tem nenhuma urgência e a votação relâmpago, totalmente manipulada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ops, Arthur Lira, foi apenas uma bomba de fumaça. Debates dessa ordem antecipam as campanhas municipais eleitorais, fazem material para manter a militância ativa. É claro que esse projeto criminoso deve ser discutido e deve haver uma pressão popular fortíssima para que ele não seja aprovado. Inclusive no final vou deixar o link para entrar na página do congresso e votar NÃO a esse atentado à vida das mulheres. Mas isso não deveria ganhar a ordem do dia da mídia progressista pelo fato do governo não querer se envolver. É exatamente isso que o bolsonarismo quer. Enquanto isso ocupa a pauta, o grande projeto é articulado com calma e tranquilidade: Bolsonaro será anistiado e, consequentemente, a sua manada de seguidores também será. Vai ser mais uma anistia à moda braZil, porque o genocida será anistiado mesmo antes de ser condenado.
Qual a única maneira de barrar o projeto bolsonarista de retomada do poder?
POVO NA RUA!
Mas será que é interesse de Lula e de seu governo-a-menos-de-meio-passo-do-neoliberalismo que o povo vá para a rua? Será que é interessante para Lula que o MST escancare que este governo nada faz pela reforma agrária? Será que é interessante para Lula que as verdadeiras agendas econômicas, que passam necessariamente pela quebra de privilégios históricos das elites que mantém o governo Lula em pé, sejam cobradas por uma população que se vê cada vez mais pressionada pela falta de perspectiva? Será que é interesse de Lula que as pessoas que trabalham nas universidades públicas participem de grandes comícios para denunciar que o ex-sindicalista acha que greve não leva a lugar nenhum? E de fato parece não levar, porque as carreiras de ponta do serviço público (juízes, promotores, militares etc.) não fazem greve mas sempre têm os seus subsídios reajustados e as suas vantagens, muitas delas imorais, asseguradas. Lula gostaria que isso fosse revelado pela e para a população?
A verdade é que Eduardo Cunha, ops, Arthur Lira mantém o governo Lula manietado e consegue em 24 segundos desviar toda a atenção para um assunto que não vai em frente senão para criar material de campanha para o início do grande golpe que vai se estabelecer a partir das eleições municipais. E, claro, ganhar tempo para o objetivo final, que o caminho de volta de Jair Bolsonaro seja pavimentado sem percalços.
Lula é um político admirável, mesmo quem o odeia precisa reconhecer. Mas está na hora do povo trazer Lula de volta para o terreno em que ele se criou e onde construiu a sua história na política. É preciso o povo reassumir o protagonismo das lutas. Ou isso ou a volta de Bolsonaro.
Se o povo não acordar para ir às ruas, é possível até que um projeto assassino como o da criminalização extrema do aborto passe. Quem sabe começamos cobrando do governo uma manifestação do governo sobre isso e, a partir daí, vamos para as ruas brigar pela verdadeira redemocratização do Brasil?
Avenida Paulista nesse momento. 💗✨
— Amandinha (@mandsfra2) June 13, 2024
VOTEM CONTRA O ASSASSINATO DE MULHERES, ADOLESCENTES E CRIANÇAS!
IMPEÇAM A EXTREMA DIREITA DE VENCER ESSA LUTA!
NÃO AO PL 1904/2024!
https://www.camara.leg.br/enquetes/2434493
*Imagem de destaque obtida no canal de extrema-direita "Pilhado": https://www.youtube.com/watch?v=0-TYEu-poOs. Acesso em 13/6/2024.
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