Oscar Wilde se diverte (e o posto ipiranga?)


 

Oscar Wilde odiava o tédio. O único pecado imperdoável. Qualquer retrospectiva dos fatos políticos dos últimos anos, 11 por exemplo, nunca poderá primar pela brevidade. Os acontecimentos se sucedem em ritmo fabril e febril. Se ainda existissem jornais impressos faltaria muito peixe para ser embrulhado pelas notícias velhas. Ainda ontem a crise diplomática provocada por Lula, que tornaria o Brasil um pária na geopolítica era manchete de capa das grandes mídias. E anteontem era a micareta bolsonazi, e tresontonti era...

Isso explica, talvez, a razão de eu não escrever com frequência aqui. Se em tempos mais "normais" já não era fácil eleger algum assunto na extensa ordem do dia, agora definitivamente não é tarefa para quem não vive o jornalismo profissionalmente. Quanto mais pra quem sequer jornalista é. Querem ver?

Vou falar sobre a posse de Flávio Dino no STF, as coisas interessantes que envolvem esse fato, evocar Sérgio Moro, lembrar o alerta que Lula fez para o ex-presidente da república curitibana em audiência, referir que o inelegível Jair Bolsonaro chamou Dino de "paraíba", na expressão mais odiosamente preconceituosa do termo... daria assunto pra várias colunas. Então vou falar sobre o trem da alegria (ou do desespero) que vai levar o Messias e alguns dos seus sequazes à Polícia Federal hoje. Teria que abordar o silêncio covarde do outrora tão falastrão genocida, não poderia deixar de pensar sobre o pavor que estão os outros depoentes e a dúvida atroz entre usar o direito ao silêncio, arriscando ser rifado pelo traíra patriarca da familícia, como já fez com tantos outros e outras, e abrir a boca, sob pena de assassinato. Que texto longo ficaria! Que tal, então, a possibilidade de cassação da licença da ex-rede oficial do bolsonarismo, Jovem Pan? Tem pano pra manga aí também. 

Viram como é difícil a coisa? Foram só três exemplos de temas que estão na pauta. E o que faz a imprensa mafiomidiática diante de tanto assunto? Cria mais! É, parece mentira, mas globo e cia. não só não fazem o jornalismo sério que se espera em cima dos fatos que são notícia, como criam factoides, inventam alguns assuntos, distorcem outros, tudo de acordo com os seus interÉsses, brizolisticamente falando. 

Ao cidadão comum e à cidadã comum, nós, cabe manter a atenção para não cair nas esparrelas armadas pelo sistema. E o sistema não descarta Bolsonaro, sua familícia, seus "amigos" criminosos, incluindo os mili(cianos)tares. Não, o sistema não descarta ninguém. Tudo que pode servir pra armar lonas de circo e explodir bombas de fumaça para distrair o povo é usado sem nenhum constrangimento. 

Oscar Wilde, se vivesse aqui e agora, nunca pensaria em tédio. Talvez nem mesmo Baudelaire poemizaria o spleen. 

A propósito, Sherlock Holmes (ou Mário Fofoca) encontrariam o rastro de Paulo Guedes?

*Imagem de destaque: https://www.facebook.com/Renatocomtedio/ (acesso em 22/2/2024).

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