Corrupção (global) à americanas



Lojas Americanas é um ícone da minha infância e primeiros anos da juventude. Assim como a Panvel do Calçadão, que era o lugar onde se comprava ingresso para os shows que rolavam na cidade, principalmente no Gigantinho, as Americanas era (a concordância é assim mesmo) uma referência do centro da cidade, que nem se chamava ainda Centro Histórico, era centro mesmo. Quase tudo o que era preciso para a casa e que não fosse comida se comprava lá. Tinha também a Lobras e as Casas Pernambucanas para outras compras, mas as Americanas era sempre a primeira opção. Estou falando dos anos 1970 e 80. 

Hoje as Americanas é apenas um dos maiores casos de corrupção da história do capitalismo brasileiro. De novo: hoje as Americanas é apenas um dos maiores casos de corrupção da história do capitalismo brasileiro.

Algumas pessoas com quem tenho conversado não estão muito por dentro da coisa toda, ou, pior, acham que isso não influi na vida do povo, afinal é uma empresa privada, portanto, segundo essas pessoas - e muitas outras -, não tem dinheiro público envolvido. Com isso, diante do gigantesco leque de escolhas possíveis para exercitar a capacidade de escrever um textinho por aqui, resolvi falar disso e não da canalhice do passador de boiada e seu sabujo sulista ou da chantagem de Lira sobre o governo. Se tivesse estômago, falaria do estuprador Robinho ou alguma coisa do genocida. Se bem que neste último caso é tanta coisa que não daria nem pra fazer hiperlink. Então vamos a um propósito bem mais modesto, falar um pouquinho das Americanas. 

Antes de qualquer outra coisa, é preciso dizer que o dinheiro é uma criação do capitalismo, feita alguns séculos antes do velho Marx dizer o que é o capitalismo. Ou seja, dinheiro é instrumento de dominação. Isso não é novidade, mas, sendo instrumento de dominação, isso quer dizer que não existe dinheiro privado, salvo por uma manobra nefasta do sistema. No caso das Americanas, porém, essa ideia é mais fácil de ser entendida. 

Basicamente, a fraude nas Americanas, que até dias atrás era tratada como inconsistência contábil, (pequena inconsistência de 20 anos e 50 bilhões!) era uma manipulação dos balanços e da divulgação das informações sobre as contas e negócios da empresa, a fim de mentir que estavam em alta, quando, na verdade, o prejuízo era maior a cada ano. Qual o resultado disso? As ações da companhia foram supervalorizadas durante esses anos. Quem eram os maiores beneficiários dessa picaretagem? Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, donos das Americanas e maiores acionsitas. É possível, e isso é só uma hipótese, que o o superministério da economia do desgoverno bolsonaro soubesse disso. Só uma hipótese... Além disso, é preciso dizer que as Americanas, como a maioria das grandes corporações, faz negócios com bancos públicos, empréstimos, financiamentos etc. Ou seja, tem muito dinheiro do povo aí, sim!

Mais do que isso não vou dizer agora, porque é muito mais fácil e produtivo ir direto na fonte de quem está estudando a fundo o assunto e tem no currículo o desmantelamento do crime judiciário chamado Lavajato. Assistam os vídeos do Desperta ICL, programa apresentado de segunda a sexta, entre 7 e 8 da manhã, pelo jornalista Leandro Demori, que vão saber tudo sobre o caso. A minha intenção aqui, como já disse, é bem mais modesta, porque quero apenas chamar a atenção para um dos aspectos que o Demori tem explorado muito no Desperta, que é a blindagem feita pela grande mídia, especificamente a Rede Globo, à roubalheira do trio citado aí em cima. 

Segundo levantamento feito pelo Demori, na terça-feira à noite, quando pela primeira vez a fraude deixou de ser tratada como inconsistência pelo executivo da empresa, o Jornal Nacional dedicou 39 segundos ao assunto e ainda em nota pelada, que, no jargão jornalístico, é aquela notícia apenas lida pelo apresentador, no caso pela apresentadora, do telejornal sem nenhum suporte de imagem ou qualquer outro recurso. Ontem, quarta-feira, foram menos de 30 segundos. Como comparação, as matérias que tratavam dos problemas na Petrobrás eram grandes eventos midiáticos, de 4, 5, 6, 10 minutos, cheio de imagens criativas no fundo, vídeos mostrando a polícia federal entrando na casa dos investigados e todo o circo que bem conhecemos. A título de informação, os valores envolvidos no caso Petrobrás foram quase 10 vezes menores do que o que já apareceu até aqui nas Americanas. Qual o interesse da Globo em esconder a ladroagem nas Americanas? Algumas pistas podem ser encontradas aqui: https://diplomatique.org.br/quem-controla-a-noticia-no-brasil/.

Pela terceira vez vou dizer que a minha intenção aqui não é aprofundar o assunto, apenas tentar despertar o interesse e fazer algumas ligações para que se entenda melhor todo o caso, porque, disto não tenho dúvidas, é um dos maiores eventos de corrupção da história de um país tão afundado na corrupção nos últimos anos. E, como também se diz na linguagem jornalística, puxando essa pena vai aparecer a galinha inteira. Peço às minhas qualificadíssimas leitoras e leitores que cliquem nos links distribuídos ao longo do texto, porque muitas coisas vão ser compreendidas. 

Para terminar com um pouquinho de humor extraído da desgraceira (hay que endurecerse pero...) fiquem com a lavrada (os trocadilhos me perseguem...) que deputada bolsonaZista levou ontem na CPI do MST: https://revistaforum.com.br/politica/2023/6/14/carol-de-toni-esconde-de-suas-redes-humilhao-historica-que-sofreu-de-professor-na-cmara-137678.html.

Imagem de destaque copiada de: https://oportaln10.com.br/todocanal/apos-rombo-americanas-cancela-patrocinio-no-bbb-23/. Acesso em 15/6/2023.


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