E agora, quem poderá nos salvar? Ou: o bolsonarismo com ou sem Bolsonaro
Em 2020, o então bolsonarista convicto Abraham Weintraub estava sendo investigado pela prática de diversos crimes, entre eles ter chamado os ministros do STF de vagabundos e dizer que eles deveriam ser presos. O sujeito foi mais esperto que a Suprema Corte e com uma ajudinha do amigo presidente voou para os EE.UU. e ainda ganhou um carguinho com vencimentos na casa dos seis dígitos. Por onde anda hoje não sei, mas é certo que não é na cadeia, que é onde deveria estar. Essa história é amplamente conhecida, como também é conhecida a ingratidão de Abraham, que andou disparando cobras e lagartos contra o ex-amigão depois que ele já não servia mais. Ratos sempre sabem antes quando o navio começa a afundar, enfim.
Bolsonaro tentou usar estratégia parecida. Sabendo que as coisas iriam se complicar, esperou pacientemente o momento certo e, na véspera de perder o cargo, fugiu em avião oficial, com direito a sabujos pagos com dinheiro público. Ingênuo, acreditou que o amigão Donald Trump garantiria a sua permanência e segurança por lá. Comemorou o reveillon, fez festa para 300 canalhas na casa do lutador canalha que o abrigou e, de lá, incentivou o seu exército descerebrado a quebrar tudo. Não contava, porém, com o desprezo do amigo e ídolo. Trump não moveu uma palha por ele e as autoridades estadunidenses, incluindo parlamentares e o próprio presidente, disseram que não querem a permanência do genocida no país. Sob ameaça de ser vomitado pelos ianques, o mito apresentou novos velhos problemas de saúde, que sempre voltam em horas convenientes. Disse que vai antecipar o retorno ao Brasil para poder se submeter aos cuidados dos seus médicos de confiança.
Bolsonaro sabe que dia mais dia menos vai ser "convidado" a sair dos EE.UU. E sabe que se isso acontecer ele entrará no país sob os cuidados não dos médicos, mas das autoridades brasileiras. Do contrário, se regressar espontaneamente, talvez não precise nem sair do aeroporto. Desembarca de um avião e embarca em outro, com destino a algum lugar desses que recebe lixo enviado por outros países. As portas estão se fechando para ele, mas enquanto há vida, há esperança, e a esperança de Bolsonaro está fortemente ligada à postura das forças armadas diante do que tem acontecido no Brasil desde o resultado da eleição presidencial. Ele precisa ganhar tempo.
O bolsonarismo domina as forças armadas. Disso não pode haver dúvidas quando os alucinados patriotas permanecem em frente às áreas de segurança militar durante dois meses sem nenhuma importunação. E mais ainda quando esses inqualificáveis articulam à luz do dia a invasão à capital federal sem que nada seja feito para impedir. O governo Lula está amarrado com isso, porque sabe a força que tem a caserna. O Exército, por sua vez, monitora toda a situação e avalia cautelosamente os movimentos dos governos e entidades internacionais, incluindo os grandes órgãos de mídia. A alta cúpula para burra não serve. Eles sabem que uma intervenção/golpe depende da instauração de um quadro de desordem incontrolável, que mostre a ineficácia das instituições republicanas em manter o funcionamento do país. Que outra razão teriam para não agir? Que outra razão explica a ausência de manifestações, uma nota oficial sequer, sobre a esculhambação de domingo? Não podemos esquecer que há esposas, parentes e amigos de militares de alta patente, inclusive alguns próprios, nos acampamentos. Isso, inclusive, foi uma das razões alegadas pelo ministro da defesa para não ter mandado desmanchar os bivaques patrióticos. Aliás, este bolsonarista ainda permanece no cargo?
E há, ainda, outro aspecto importantíssimo da estratégia bolsonarista que tem passado batido. Como anda a economia do país? (Onde estará escondido Paulo Guedes?) Enquanto tudo isso acontece e o governo direciona a sua atenção para garantir a segurança, no que, aliás, falhou no domingo, as outras áreas ficam em segundo plano, inclusive a econômica. Durante alguns dias o debate se deu em torno das divergências entre Fernando Haddad e Simone Tebet. Desde o fim de semana já não se fala mais nisso. Interessa muito ao bolsonarismo a instauração de um quadro de grande instabilidade econômica. O nervosismo do deus mercado é providencial aos interesses da plataforma bolsonarista. Não tardarão as notícias sobre a retração dos investimentos no país, o medo dos capitalistas com a instabilidade política e tudo mais que sabemos altera muito mais o humor do mercado do que 30 milhões de pessoas morrendo de fome. Quando todos esses ingredientes estiverem em ponto de fervura no caldeirão brazilis, quem poderá nos salvar? Não será o Chapolin, porque este é vermelho...
Imagem de destaque: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/joe-biden-sofre-pressao-para-expulsar-bolsonaro-dos-estados-unidos/. Acesso em 11/1/2023.
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