"Nenhum golpe de estado jamais foi tão anunciado" Ou: os dois meses que poderão resultar no fim da aventura humana na Terra



Messias Bolsonaro está brabo com os seus sabujos fardados. Como eles ousam descumprir as ordens do chefe? Era para achar fraude nas urnas, pô! Se não tinha, eles que arrumassem! Pra que eles são pagos, afinal? O fato é que o teste dos milicos não encontrou problema nenhum e o chefe mandou arquivar o relatório temporariamente, até que eles encontrem alguma coisa no segundo turno.

O cenário para o golpe está sendo armado!

"Os próximos dois meses serão os meses mais importantes da história da humanidade." Esta afirmação, grave e hiperbólica, segundo o próprio autor, foi feita por Noam Chomsky, numa live apresentada no último dia 11, dois dias atrás, em que conversava com Sonia Guajajara, com mediação de Vera Chueiri que teve uma parte reproduzida no canal do Eduardo Moreira. No trecho destacado por Eduardo Moreira, Chomsky fala da Amazônia e dos perigos para a humanidade que a reeleição de Bolsonaro representa (não sou supersticioso, mas como o seguro morreu de velho, bato três vezes na madeira). Ele diz que se Bolsonaro não for afastado do cargo, a Amazônia vai ultrapassar o que ele chama de ponto de inflexão, com danos irreversíveis, que podem levar à extinção da humanidade. E o que Chomsky diz na sequência é aterrador, a ponto que a reprodução se justifica:

"(...) e, infelizmente, as eleições podem não ser o suficiente para tirá-lo [Bolsonaro] do cargo, você sabe muito bem que há possibilidades reais de algum tipo de golpe militar de uma forma ou de outra, apoiado por setores ricos, isso é perigoso."

Muita gente com quem converso é cética em relação a um golpe neste momento. Pessoas cujo pensamento e as opiniões eu levo em altíssima conta, inclusive, mas que, infelizmente, estão sendo demasiadamente otimistas ou até mesmo ingênuas. 

"Há vários anos, o presidente Jair Bolsonaro planeja contestar sua eventual derrota ao desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Ele acusa os juízes dos tribunais superiores de serem corruptos e partidários, prevê que os votos serão adulterados, suspeita que a mídia esteja a serviço do campo adversário. Inspirado na estratégia de Donald Trump, o presidente brasileiro mobiliza seus apoiadores apresentando-se como vítima, perseguido por um establishment vendido à esquerda, e como único salvador e redentor da nação. Ele demoniza seus adversários e os designa como inimigos. Ao fazê-lo, prepara seus militantes, muitos deles armados, para a violência política e até para a insurreição."

O trecho aí de cima é de um manifesto assinado por mais de cem pessoas, incluindo o próprio Noam Chomsky, Roger Waters, Danny Glover e tantas outras personalidades, que se apresenta como "um poderoso movimento de solidariedade internacional em defesa da democracia no Brasil". Importante é a citação a Donald Trump, que é um exemplo a ser atingido por Bolsonaro. Em que pese a derrota na última eleição, o trumpismo não acabou e articula a volta ao poder do facínora estadounidense. O discurso e as práticas de Trump, como se sabe, são muito semelhantes aos de Bolsonaro: nacionalismo exarcebado, xenofobia, defesa de valores conservadores, teorias conspiratórias sobre fraude eleitoral e outras, e por aí vai. Se o país mais poderoso do mundo vive às voltas com a possibilidade de um golpe, que nível de arrogância e autossuficiência nos leva a pensar que estamos livres?

Um argumento muito usado por quem diz que não haverá golpe é que os militares não iriam embarcar nessa canoa furada de novo. Trata-se, na minha opinião, de uma ideia equivocada e até pueril. O militarismo se baseia em dois conceitos: hierarquia e disciplina, o que significa dizer que se os superiores determinarem, todas as esferas abaixo vão cumprir sem questionamentos. Bolsonaro aparelhou o governo com militares e a eles concedeu benefícios extremamente generosos, que vão de aumento de vencimentos a promoções inexplicáveis. Constitucionalmente, ele, Jair Bolsonaro, é o comandante das forças armadas. A hierarquia e a disciplina vão permitir que os homens da caserna contrariem as ordens do chefe?  

Por outro lado, a escalada fascista pelo mundo está longe de ter fim. Não fosse suficiente o trumpismo, que como visto está forte e ativo, Giorgia Meloni, do partido declaradamente neofascista Irmãos da Itália foi eleita. Mais perto de nós, no Peru, o governo de Pedro Castillo está sofrendo ameaça de golpe. A BBC publicou matéria alertando para o avanço da extrema-direita e os perigos que isso representa. No mesmo sentido vai a Carta Capital. Vale também ler o editorial do Le Monde Diplomatique Brasil (ed. 169), que faz um resgate da extrema direita no Brasil e mostra que setores importantes da economia sustentam a pauta fascista de Bolsonaro, o que nos manda de volta à fala de Chomsky, de que os ricos podem subsidiar o golpe. 

Tudo isso leva a uma conclusão óbvia: devemos estar preparados para um golpe, porque a vitória não virá só pelas urnas.

*Imagem de destaque copiada de: https://toninhovespoli.com.br/o-bolsonaro-quer-dar-um-golpe/. Acesso em 13 de out. 2022.

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