Na cidade de Dom Sebastião não basta ser pobre, tem que parecer pobre

Qual a graça de prejudicar as pessoas pobres sem permitir que elas sejam identificadas?

O (des)governo melonaro de Porto (outrora) Alegre conseguiu piorar o que já estava ruim. Barrar o passe livre nos ônibus no dia da eleição, que era uma tradição, atende unicamente o interesse dos barões do transporte coletivo e de quem ainda luta com todas as armas para manter o governo nazifascista de Jair Bolsonaro.

A Justiça garantiu o direito ao passe livre para amanhã 2/10. Pois a prefeitura não se deu por vencida e recorreu. E, como uma onça cutucada com vara curta, como uma criança que teve o seu brinquedinho recolhido, pintou com tintas de crueldade o recurso. E levou. 

Amanhã, dia da eleição mais importante da história do país, Dom Sebastião decretou e a justiça burguesa acatou: a pessoa pobre que precisar de ônibus pra ir votar só poderá não pagar a passagem caso se sujeite a ficar espremida na parte da frente, sem passar a roleta. Assim, além de viajar em condições precárias, estará numa espécie de jaula de zoológico, através da qual todas as outras poderão identificá-la como beneficiária da isenção. 

A decisão da prefeitura que encontrou guarida numa justiça mais do que injusta, é de uma crueldade violenta, porque não apenas dificulta o exercício do direito à cidadania (voto), mas cria uma segregação que não existe em dias normais, já que nesses dias a pessoa apresenta a credencial liberatória e passa a roleta, podendo ocupar o mesmo espaço de todas as outras. Seria melhor ter deixado como estava, então, mas a municipalidade privatista e elitista de Porto (que já foi) Alegre não admite ser contestada. "Quem são essas pessoas que ousam ir contra uma decisão do todo-poderoso Dom Sebastião? Pois que vejam com quem estão mexendo! Querem passear sem pagar? Que levem um carimbo na testa!" Há ainda o agravante que o voto é um dever, cujo não cumprimento traz consequências muito ruins para a pessoa. Isto é, perde-se por todos os lados. 

É muito triste saber que Porto Alegre já sediou o Fórum Social Mundial, já foi matéria dos jornais mais importantes do mundo pelo Orçamento Participativo, e hoje está entregue a essa gente elitista, entreguista, que só tem olhos (e, dizem, bolsos) para as elites, e trata a população desfavorecida com tamanho desprezo, crueldade e violência. Que essa população humilhada e destituída dos direitos mais básicos entenda definitivamente que votar em mentiroso, em hipócrita, em quem se fantasia de popular mas só atende aos poderosos, não dá mais. Amanhã as eleições são outras e a tarefa é derrotar Bolsonaro e toda a escória que o acompanha. Mas daqui a dois anos será a vez da prefeitura e da câmara municipal. 

Como escreveu León Gieco e cantou La Negra: "Si un traidor puede más que unos cuantos, que esos cuantos no lo olviden fácilmente"  

Que a população porto-alegrense tenha aprendido a lição e em 2024 mande Sebastião Melo e o seu bando de traidores do povo para o esgoto da história.

*Imagem de destaque gentilmente cedida por Najla Diniz.