Crentes e fiéis, em verdade vos digo: nem Jair, nem Roberto, o grande bandido é outro




Um colega de trabalho bolsonarista me fez uma pergunta interessante na semana passada. Defendendo Jair Bolsonaro das acusações de pedofilia no caso das meninas venezuelanas, ele me perguntou qual o sentido do sujeito dizer isso sabendo que provavelmente o áudio/vídeo vazaria. É uma pergunta interessante não por seu caráter objetivo, mas por mostrar a lavagem cerebral promovida pelo bolsonarismo. Como já disse aqui em outros momentos, o eleitorado bolsonarista é sui generis, porque em 2018 votou num candidato porque acreditou que ele não cumpriria a plataforma política. Jair Bolsonaro não virou racista, misógino, homofóbico, torturador, fã de assassinos e tudo mais que sabemos que ele é a partir da campanha eleitoral passada. Não, ele já era tudo isso e nunca escondeu. Mas os bolsonaristas sempre arrumavam um jeito de dizer que não era exatamente aquilo que ele queria dizer, que ele não era daquele jeito, que ele não faria o que estava dizendo. E vimos que ele É precisamente aquilo e que ele FEZ tudo o que disse que ia fazer. Mas os bolsonaristas são crentes (crentes...) e continuam dizendo que nada é o que é. Até uma expressão clássica do português brasileiro ganha outro sentido na voz do mito: pintar um clima deixou de ser pintar um clima. Enfim, é a pregação olavista operando milagres em nome do Messias. Ah, sim, eu respondi pra ele que Bolsonaro falou aquilo exatamente pra vazar. 

O bolsonarismo, porém, é mais inteligente do que parece. O bolsonarismo, não Bolsonaro, que este, insisto, é uma marionete descerebrada do sistema. Vejam que agora o tema do noticiário é o atentado do bandido (que não é bom, porque não está morto) Roberto Jefferson. Que bela chance do mito mostrar que não defende bandido, né? Roberto Jefferson é o idiota útil do momento. Ele vai pra cadeia, já foi, parece, mas o que importa? E por quanto tempo? O que interessa é que Jair Bolsonaro não tem amigo bandido. 

Aqui no RS, onde Bolsonaro não conseguiu palanque duplo e o seu sabujo de plantão corre o risco de não se eleger (o titular, porque o reserva, o governador gay que não quer ser um gay governador é bolsonarista também, não esqueçamos), outro bandido, que também não está morto (mas deveria), disse atrocidades a respeito dos estudantes de Pelotas e Santa Maria. Ganhou destaque nos debates das redes.    

Sabem o que vai acontecer com Roberto Jefferson? Vai ficar um tempinho em cana e depois vai desaparecer da vida pública, talvez até desaparecer da vida propriamente, dependendo de como se comportar. Se for fiel (fiel...), fica um tempo na cadeia e sai de lá com uma boa grana pra curtir o resto de vida no ostracismo; se for infiel (infiel...) vai comer capim pela raiz, como Adriano da Nóbrega e tantos outros que representaram algum risco ao bolsonarismo.

Sabem o que vai acontecer com Bibo Nunes, o bandido que quer queimar jovens vivos? Nada! Se o canalha bolsonarista se eleger governador vai ganhar um carguinho no governo. Se o eleito for o canalha bolsonarista nº 2, ele volta pro obscurantismo de onde nunca deveria ter saído e vai fazer programinha apelativo em algum canal fechado de TV bolsonarista.

Sabem o que vai acontecer com as declarações pedófilas de Jair Bolsonaro? Nada! Hoje isso já é jornal de enrolar peixe. 

Sabem o que vai acontecer com o Ministro da Defesa que descumpriu a ordem judicial de apresentrar o relatório da fiscalização das urnas no primeiro turno? Nada! O judiciário "aparelhado" pelo comunismo deu uma decisão mais ou menos assim: "Seu ministro, o senhor tem que apresentar o relatório em 5 dias, mas se não quiser não precisa, tá?" 

E enquanto o povo se distrai com os bandidos ruins, porque, afinal, se fossem bons estariam mortos, pouco se fala na devastação que o chicago boy, que está bem vivo, vai fazer na economia e na vida das pessoas caso o projeto neofascista do bolsonarismo tenha continuidade. 

Enquanto o povo se distrai com imbecis (in)úteis como Roberto Jefferson, Bibo Nunes e o próprio Jair Bolsonaro, o bolsonarismo promove isto aqui:

Acervo do autor.

Uma singela imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, santa da devoção de boa parte do povo brasileiro, distribuída na recém erigida ao status de basílica igreja de Nossa Senhora das Dores, em Porto Alegre. Não precisa ser um especialista em semiologia para identificar algo estranho na imagem de uma santa com a bandeira do Brasil por trás, embora seja ela, como dito, padoreira do país. E com tantas mensagens bonitas do atual pontífice, uma oração assinada pelo anterior, que como se sabe flertou com o nazismo na juventude, começa a dar cores mais vivas à mensagem do panfletinho. "Família", "pátria", o que faltou mesmo? Propriedade. Ah, não faltou não: "abençoai as suas terras". 

Mas é quando a gente olha o verso que o troço vira um panfletão: 

Acervo do autor.

                                                                                                                          
Enquanto o bandido Jefferson atira granadas na polícia, enquanto o bandido Bibo quer que jovens estudantes sejam queimados vivos, enquanto o bandido Jair diz que não é pedófilo, mas trabalha para barrar a transformação de pedofilia em crime hediondo, enquanto tudo isso ocupa a primeira página dos noticiários e os trend tops das redes sociais, Paulo Guedes vai articulando com Arthur Lira a destruição da economia popular e o próprio massacre do povo e o ministério da defesa vai preparando o golpe na manga com o relatório das urnas. 

Temos menos de uma semana para decidir entre avalizar o projeto fascista do bolsonarismo e de Paulo Guedes ou buscar uma alternativa de redemocratização do país. Para isso, entretanto, é fundamental que ocupemos os próximos dias menos com robertos jeffersons da vida e mais em conversar com nossos amigos e amigas cristãs para mostrar a manipulação e a lavagem cerebral que o bolsonarismo quer promover na fé; é fundamental que deixemos os bibos nunes da vida falando sozinhos e conversemos com os nossos amigos e nossas amigas servidores/as públicos/as para mostrar a destruição que o bolsonarismo e Paulo Guedes querem fazer no serviço público; é fundamental que deixemos para tratar das inclinações pedófilas de Bolsonaro na hora certa e conversemos com nossos amigos e amigas aposentados/as para que vão votar no LULA - 13 e impedir que o bolsonarismo e Paulo Guedes transformem o tempo de vida que ainda têm num inferno na terra. Quem sabe mostrar pra essas pessoas o número gigantesco de mulheres e homens de mais idade que se mataram no Chile quando os efeitos da política econômica genocida de Paulo Guedes (sim, o bandido andou por lá também) começaram a surtir os efeitos. 

Não tenhamos ilusão com falsas amizades. A globolixo, como é chamada pelos bolsonaristas, passou quase 4 anos batendo em Jair Bolsonaro, mas não disse uma vírgula sequer contra Paulo Guedes, mesmo quando vieram à tona as operações ilegais que ele faz em paraísos fiscais. Por que será que o superministro foi poupado? Simples: porque é a política dele que interessa à Globo e às elites econômicas e não a de Jair Bolsonaro, que é descartável e vai ser eliminado assim que não servir mais ao sistema. Como a maquiagem econômica começou a escorrer pelo rosto e não vai dar pra segurar o preço da gasolina por mais tempo - já começou a subir - bateu o desespero no bolsonarismo e na corrida contra o tempo eles vão lançar mão de todos os golpes possíveis e imagináveis e até os inimagináveis para desviar a atenção e não abalar o plano. 

Enfim, meus amigos e minhas amigas, temos menos de uma semana para limpar os olhos da fumaça das bombas atiradas pelo bolsonarismo e centrar nossa atenção ao que realmente interessa: derrubar Jair Bolsonaro e a  política assassina de Paulo Guedes. Este é o nosso inimigo. Do resto a gente cuida depois. 

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