De mulher pra mulher

 

Imagem copiada de: https://www.pstu.org.br/eleicoes-participe-da-campanha-queroveranodebate/. Acesso em: 30 de ago 20222.



Nem toda feiticeira é corcunda. 
Nem toda brasileira é bunda.*

O grande assunto destas eleições é a Mulher. Mulher em sentido amplo e em sentido estrito. Candidatas em profusão disputando todos os cargos. Candidatos (homens) feministas. A partir de 2023 não existirá mais feminicídio no Brasil e a Maria da Penha será revogada tacitamente por falta de aplicação. Admirável Mundo Novo. Admirável Gado Novo. No mundo real, nem tudo que brilha é ouro.

O debate realizado pela Bandeirantes no último domingo colocou sob os holofotes duas candidatas, que passaram a ser admiradas por muita gente pela postura combativa e a coragem de contrapor Jair Bolsonaro. Talvez seja interesante, então, trazer algumas informações rápidas sobre as duas destacadas postulantes ao cargo máximo da ré pública, quer dizer, república (esse corretor automático...):

SIMONE TEBET:

- atuou pesadamente em nome das forças (des)moralizadoras que derubaram a primeira mulher que foi eleita presidenta do Brasil, Dilma Roussef; 

- trabalhou ardorosamente para aprovar a reforma previdenciária que destruiu o sistema previdenciário público e gerou benefícios gigantescos aos bancos e companhias privadas, cujos efeitos vão começar a ser sentidos em pouco tempo com a miséria da população aposentada;

- ruralista em Mato Grosso do Sul, ela e o marido, Eduardo Rocha, deputado estadual naquele estado, tiveram suas campanhas financiadas pelos barões do agronegócio;

- segundo a Agência Pública, até a metade do mandato votou favoravelmente em 86% dos projetos de Jair Bolsonaro;

- foi apontada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) como uma das parlamentares mais atuantes contra os interesses dos povos indígenas; 

- recentemente, o site Metrópoles divulgou matéria que mostra que uma assessora sua foi bloqueada pela Wikipedia por tentar alterar dados relativos a questões polêmicas envolvendo direitos humanos e indígenas no seu verbete.

SORAYA THRONICKE:  

- se revoltou contra o machismo e a misoginia da tchutchuca do centrão, mas na última eleição ao senado não se importava com isso e se elegeu com o slogan "senadora do Bolsonaro" em Mato Grosso do Sul (Jair Bolsonaro já era machista e misógino em 2018);

- pediu reforço na segurança e disse que "do jeito que tá" vai entregar muita coisa. Sobre isso, vale destacar o tipo do artigo 319 do Código Penal Brasileiro, que define o crime de prevaricação: "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal." Como Senadora, Soraya tem a obrigação de dizer as coisas que sabe sobre Jair Bolsonaro, sob pena de estar cometendo crime de prevaricação. 

Simone Tebet e Soraya Thronicke escancaram a face mais suja e deplorável da política brasileira. Fisiologismo barato e conduta oportunista de quem surfa na onda, mas quando o barco começa a afundar se atira no primeiro bote. Elas cospem no prato em que comeram. As duas candidaturas têm origem no desespero das classes dominantes por uma "terceira via". Tentaram a primeira vez com Sérgio Moro, mas ele não precisou pedir ajuda para se inviabilizar. De tanta bobagem que disse e fez, cometeu suicídio eleitoral. Como alternativa ao comandante da lavajato, a Globo tentou uma saída do armário em rede nacional, com Eduardo Leite assumindo ser gay no programa do Bial. Não vingou. Leite e João Dória entraram numa disputa de beleza que implodiu o ninho tucano, jogando pena pra todo lado. Esperto foi o Alckmin, que se agarrou no Lula. Como resultado dessa confusão, de um lado o MDB tentando negar a sua história golpista e buscando o poder pela via legítima, e de outro uma colcha de retalhos de cetim e linho egípcio numa ultraelitista união pelo braZil. 

Diante desse quadro distópico, se a intenção é eleger uma mulher, por que não ir logo em duas?  Vera Lúcia é uma mulher negra. Raquel Tremembé é uma mulher indígena. Elas são as candidatas do PSTU a presidenta e vice-presidenta, respectivamente. Mulheres trabalhadoras, com histórias marcadas por lutas sociais e direitos humanos, que compõem uma chapa que a burocracia elitista da legislação eleitoral brasileira impede de participar dos debates. Essas mulheres sim botariam com legitimidade o dedo na cara do facínora que tenta a reeleição. Quem faz questão de votar em mulheres, e é uma decisão digna, relevante e de grande importância, não precisa se iludir com o canto das sereias bolsonaristas. Sereias que são, na origem mitológica, seres pérfidos e monstruosos. Há chance de votar em mulheres de verdade, porque de bolsonaristas (estrategicamente) arrependidas, a próxima geração do inferno vai estar cheia. 

*Salve, Rita Lee e Zélia Duncan!

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