Coragem! E olho vivo...
Tenho insistido aqui na ideia da falência e/ou do aparelhamento das instituições republicanas no braZil bolsonarista. O fato mais recente talvez seja a notícia que Augusto Aras pediu arquivamento das investigações sobre os crimes praticados por Jair Bolsonaro relacionados à pandemia, apontados pela CPI(zza) da Covid. É um fato jornalisticamente irrelevante, já que não causa nenhuma surpresa. Alguém poderia esperar algo diferente da zelosa e muito competente advocacia que os bolsonaros têm nas instituições?
Uma das críticas que costumo fazer diz respeito à produção de notas, manifestos, moções de repúdio, cartas abertas e toda uma série de documentos produzidos pelas instituições, que muitas vezes são anunciadas em espetáculos midiáticos, mas que partem de lugares importantes e chegam a lugar nenhum. Servem apenas para divertir Bolsonaro e seus sequazes, que zombam à farta da pirotecnia institucional, porque sabem que ela não terá nenhuma repercussão prática. Essa papelada virtual é tiro de festim ou com pólvora molhada, que pode até fazer algum barulho, mas não causa nenhum dano.
Esta semana, porém, um fato novo aconteceu nessa área, e desta vez a coisa tem peso. Falo da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros", gestada na histórica Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo/USP. Na abertura, a Carta de 2022 faz referência àquela que lhe serviu de inspiração, lida pelo Professor Goffredo da Silva Telles Júnior, em 8 de agosto de 1977, no Largo de São Francisco, mesmo lugar onde se dará a leitura deste novo documento, no próximo dia 11 de agosto.
O que tem de diferente este manifesto das pilhas de outros que se têm lançado contra o (des)governo nazifascista de Bolsonaro? A resposta passa pelos nomes que subscrevem esta Carta. Alguns deles: Armínio Fraga, Edmar Bacha, José Galló, José Guimarães Monforte, José Olympio Pereira, José Roberto Mendonça de Barros, Luís Eulalio Bueno Vidigal Filho, Luiz Fernando Figueiredo, Luiz Gonzaga Beluzzo, Maria Sílvia Bastos, Pedro Camargo Neto, Pedro Malan, Pedro Parente, Persio Arida, Roberto Setubal e Sergio Arnoud. A lista atualizada de assinaturas pode ser acessada aqui:
https://direito.usp.br/pca/arquivos/e0eac7e730c6_subscritores-da-carta-27.pdf e inclui muitos outros nomes, de gente ligada à cultura e às artes, ao esporte, ao direito, ao jornalismo, enfim, pessoas de todas as áreas. Os nomes que destaquei, entretanto, são importantes para destacar o peso do documento, porque são pessoas que integram o que se poderia chamar de elite econômica do país. E aí é que está o ponto crucial.
Há quem ainda defenda a ideia de que Jair Bolsonaro se elegeu presidente em face de uma reação antipetista de grande parte da população. Sim, este componente foi importante, mas foi apenas um instrumento de manipulação das massas, muito bem trabalhado por Sérgio Moro na sua cruzada de desmonte da economia do Brasil, disfarçada de luta anticorrupção, que consistiu na farsa judiciária que comandou sob o nome de Lavajato. Há também o discurso grotesco de Bolsonaro, associado à sua imagem não menos bizarra, que com a retórica da solução dos problemas do povo pelo armamento da sociedade civil e a violência extrema no combate à "bandidolatria", atingiu em cheio o coração e a mente de certa população sedenta pelo sangue da "bandidagem". Entretanto, o que garantiu a eleição de Jair Bolsonaro foi a pauta econômica, encabeçada pelo ultraliberalismo do chicago boy Paulo Guedes. Acontece que nos quase 4 anos de um governo trágico e genocida, a agenda entreguista, iniciada muito tempo antes, pelo menos desde Collor e Fernando Henrique, para ficar apenas no período pós-Golpe de 1º de Abril, e implementada com sucesso pelas reformas antipovo do governo golpista de Michel Temer, não obteve o sucesso esperado e o grande empresariado passou a se distanciar do (des)governo. Agora, o apoio de gente ligada aos bancos e ao mercado financeiro, além de outros setores do alto empresariado, confere uma força gigantesca à manifestação. É essa elite que garantiu a eleição e vai afiançar a queda de Bolsonaro, e isso explica o desespero da articulação da campanha da reeleição, que busca sensibilizar a população com frases de efeito, bem ao gosto do presidente genocida, e com ideias distorcidas, como dizer que a adesão de banqueiros à Carta vai por conta do golpe que o (des)governo deu no sistema financeiro com a instituição do PIX.
É importante, porém, que tenhamos absolutamente claro que muitas pessoas que assinam a Carta, justamente as que mais têm o poder de lhe conferir um peso muito maior do que tudo o que se produziu nesse sentido até agora, não estão fazendo isso pelos legítimos interesses do povo, mas sim dos seus próprios. Mas, como também tenho dito há algum tempo, o inimigo imediato é Jair Bolsonaro e sua família miliciana. A derrota do bolsonarismo, de que faz parte boa parte da elite empresarial que subscreve a carta, não nos deixemos iludir, exige que neste momento todas as forças se unam para impedir a reeleição do Messias. A partir de 1º de janeiro de 2023, ou melhor, a partir da declaração da derrota de Bolsonaro pelo TSE, a luta contra o bolsonarismo aponta a artilharia para os próximos alvos.
A fórmula é destruir Bolsonaro para destruir o bolsonarismo. Para isso, vale a lição de Raulzito:
"Ande pra frente, olhando pro lado, se entregue a quem ama, na rua ou na cama, mas tenha cuidado" (Raul Seixas, em "Conserve seu medo")
Para assinar a Carta e engrossar o caldo contra Bolsonaro:
https://direito.usp.br/noticia/809469c6c4fb-carta-as-brasileiras-e-aos-brasileiros-em-defesa-do-estado-democratico-de-direito
*Imagem de destaque copiada de: https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/um-presidente-que-teme-ser-traido-e-que-anda-chorando-muito. Acesso em: 29 de jul. 2022.
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