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Ponha-se no seu lugar!

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É um lugar comum entre as pessoas que fazem análises políticas dizer que a queda rumo ao fundo poço começou quando um obscuro deputado federal dedicou o voto pela cassação de uma presidenta, que não cometeu crime para tal pena, a um dos maiores criminosos da história mundial. Têm razão aqueles que dizem que Jair Bolsonaro deveria ter saído algemado daquela maldita sessão parlamentar, mas enganam-se ao achar que foi ali o começo da desgraça. O inferno brasileiro, na melhor acepção dantesca, começou muito antes. Talvez tenha sido quando o último ditador dos anos 1980 disse que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo; ou ainda quando uma governante assina a lei talvez mais importante da história do país com apenas dois artigos, sendo que um deles é apenas formal, e nada mais; pode não ser absurdo pensar que a ruína do país chamado Brasil começou mesmo antes dele ser assim batizado, lá por abril de 1500. Os intérpretes do Brasil estão se debatendo sobre essas questões pelo menos de...

Antítese e símbolo

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  Certa feita, por ocasião da inauguração de um famoso bar já extinto em Porto Alegre, então governador do estado, Olívio Dutra chegou ao local e, acompanhado de sua esposa, Judite, dirigiu-se à entrada VIP. O porteiro pediu identificação e ele disse que era Olívio Dutra, aposentado do Banrisul. O funcionário do bar orientou que ele entrasse na fila normal (a inauguração foi muito concorrida). E ele obedeceu, mas quando estava voltando, foi chamado novamente, porque alguém havia alertado o porteiro sobre quem era aquela pessoa. Dizem que ele ainda falou pro segurança, que apresentava as desculpas do bar, que ninguém tinha a obrigação de saber que ele era governador, bastando que soubesse o que o governador fazia pelo povo. Não sei se a história aí de cima é verdadeira, mas sei que já tive a oportunidade de estar no mesmo ambiente que o Olívio em algumas ocasiões, em três ou quatro oportunidades até mesmo de conversar com ele, e posso dizer que é uma das pessoas públicas mais simple...

O Parque Gigante está à venda? (O tempo dirá...)

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A passagem do tempo nunca é absoluta. Um minuto pode equivaler a um mês e um ano pode correr como se fosse um segundo. Na manhã de 17 de dezembro de 2006, houve momentos em que 30 segundos pareciam durar uma eternidade. E já lá se vão quase 20 anos daquele momento mágico. Por outro lado, no âmbito da política do Internacional, a impressão que se tem é que uma década passou voando. Tanto que quase não percebemos e ainda estamos às voltas para entender como um grupo de pessoas que tinham em comum o amor pelo Inter e como lugar de encontro o concreto da arquibancada, e por isso deram vida a um movimento que abalou as estruturas do ambiente político do Internacional, passou tão rapidamente de uma verdadeira revolução no futebol, referência dentro e fora das dependências do Beira-Rio, a mais do mesmo, ou, na verdade, a algo muito pior do que o mesmo.  Há 10 anos, no começo de 2015, O Povo do Clube começava a sua trajetória oficial na política do Inter, com a entrada dos primeiros e ...

O mês dos golpes

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Abril é o mês mais importante da história do braZil. Num 22 antigo, os portugueses "descobriram" a terra que os nossos guaranis, tupinambás e outros já sabiam que existia há alguns milhares de anos. Alguns séculos mais tarde, os milicos reinventaram o país, que desde então parece viver num eterno Primeiro de Abril. Vamos revisar alguns fatos recentes.  26 de março de 2025, em frente ao prédio do Senado, onde o filho zero um tem cadeira e a maioria é dos seus, Jair Messias Bolsonaro, recém tornado réu em processo criminal no STF, se manifestou ao seu público. Ao fundo, um trompetista alternava entre a marcha fúnebre e a marchinha "Tá na hora do Jair já ir embora". Ao som dessas melodias, para surpresa de algumas pessoas, não deste escrevente, o ex-presidente citou algumas vezes o senhor José Múcio Monteiro Filho. Corre na imprensa que o ministro da defesa do governo Lula testemunhará na instrução do processo, arrolado pela defesa de Bolsonaro. Quem se surpreende com ...

Na cidade de cabeça pra baixo. Ou: a fabulosa fábrica de esquisitices chamada braZil¹

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  Este blog nem sempre foi declaradamente alucinógeno. Houve um tempo em que ele só andou de cabeça pra baixo. Inspirado numa música do Raul Seixas que explicava alguns conceitos da Sociedade Alternativa, chamei este mural inicialmente de Na Cidade de Cabeça pra Baixo. O que Raul não sabia - ou talvez soubesse, sei lá - é que fazendo a descrição de uma maluquice nos anos 1970 ele estaria antecipando o que viria a ser o braZil algumas décadas depois. Se bem que, pensando bem, o braZil nunca foi muito normalzinho. Mas, de qualquer forma, o que acontece por aqui desde a ascensão dos bolsonaros ao círculo mais alto do poder supera qualquer roteiro do cinema de Buñuel e qualquer letra de Raulzito.  Começo retomando uma ideia que adotei de um grande amigo, que na época da campanha presidencial de 2018 disse que só no braZil o povo vota em um candidato porque ele não vai cumprir as promessas da campanha. Jair Bolsonaro é o verme que hoje se sabe desde sempre. Nunca escondeu isso. Po...

Aqui não é México!! Mas poderia ser...

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México: o povo vai às ruas   Estamos em guerra! Leste europeu, Faixa de Gaza, Síria, África, favelas cariocas, periferia paulistana, carnaval de rua porto-alegrense, sim estamos em guerra. Em todos os lugares. A escalada da violência neofascista mundo afora não nos permite deixar de constatar que estamos em guerra. Quando é que nós, Brasil, vamos começar a reagir?  Continuo com a impressão que a eleição de Lula em 2022 teve um efeito duplo. Ao mesmo tempo em que livrou o país da desgraça que seria um segundo mandato de Jair Bolsonaro, fez o povo mergulhar num estado de letargia absoluta, como se tudo estivesse resolvido. A reação do bolsofascismo à derrota nas urnas não foi suficiente para nos fazer acordar desse sonho. Num desdobramento desse efeito ruim da eleição, criticar o governo virou algo proibido e motivo para ser acusado de estar fazendo o jogo da extrema direita.  Não há amadores na linha de frente da política, e o PT, que está a muitos quilômetros de ser um pa...

A classe méRdia não gosta de escracho. Ou: não incomodem o general

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O Brasil de Lula e Olavo de Carvalho criou uma figura absolutamente paradoxal e que a história, a sociologia, a ciência política e nem mesmo a antropologia conseguiram ainda definir: o jovem conservador. Botar Lula e Olavo de Carvalho na mesma frase parece tão estranho como a expressão jovem conservador, já que os pares de conceitos são absolutamente antagônicos entre si. Acontece que o tempo de governo central do PT, que inclui os dois mandatos de Lula e o mandato e meio de Dilma, meio que entortou a cabeça de certa juventude das classes médias e altas, que, instruída pelo subdimensionado Olavo de Carvalho, se viu impelida a se posicionar contra um governo de (muito ao centro) esquerda. É próprio da juventude ser do contra, ser revolucionária, e por isso é chocante a imagem do jovem conservador, mas num contexto político em que um partido com raízes na esquerda emplaca três mandatos e meio as coisas começam a se explicar melhor. Contra quem a juventude iria direcionar as suas baterias...