Nem todo cogumelo dá chá



 Em 1973, Ney Matogrosso cantava lindamente o poema Rosa de Hiroshima, escrito por Vinícius de Moraes. Ainda hoje há quem não entenda o que quer dizer a letra. Ainda hoje há quem queira reviver aquele horror. 

Num dia como hoje, há 80 anos, mais ou menos nesta mesma hora, um pouco antes, um pouco depois, um sujeito chamado Paul Warfield Tibbets Jr, abriu a portinhola de um B-29 chamado Enola Gay e soltou um artefato que pesava mais ou menos 4 toneladas, que, no exato instante em que tocou o solo, gerou um gigantesco cogumelo de fumaça e determinou o fim da vida de mais de 70 mil pessoas. Aquele "Garotinho", Little Boy na língua oficial do imperialismo, ainda seguiu matando algumas centenas de milhares de pessoas por muito tempo, além de outras tantas que ficaram mutiladas física e emocionalmente. Três dias depois, o irmão maior do Little Boy, o Fat Man, explodiu em Nagasaki, deixando menos pessoas mortas diretamente, mas destruindo tantas vidas quanto o maninho. 

Segundo nos conta Eduardo Galeano no seu livro "Os filhos dos dias", o presidente Harry Truman, um daqueles maravilhosos homens do norte que passam a vida botando o seu altruísmo à disposição de quem precisa ser salvo mundo afora, agradeceu a Deus, sempre a Ele, por ter posto a bomba nuclear nas mãos da pátria da salvação e não nas mãos dos inimigos da humanidade.  

Desde então, os libertadores ianques correm o mundo procurando facínoras que pretendem desenvolver armas semelhantes, que quase sempre estão no oriente, ou outras estratégias para dominar o planeta. De Sadan a Bin Laden, passando por Fidel, Allende, Guzmán, Morales e tanta gente mais, sempre que alguém ameaça a paz mundial, seja por ter laboratórios atômicos, por produzir frutas em larga escala ou por preferir singelas empanadas caseiras às maravilhas produzidas pelo Mac Donalds, qualquer ameaça ao mundo civilizado é prontamente rechaçada pelos heroicos vingadores. 

Por aqui, um membro de uma famosa família, que descende diretamente dos pais fundadores, patriota empedernido, defende a bomba atômica como uma solução viável para salvar a pátria mãe adormecida das garras do comunismo de Lula e Moraes (ou vice-versa). O número três da mesma família quer um porta-aviões em Brasília, no lago Paranoá. Corre à boca pequena que já há até um plano para a entrada do buque estadunidense no planalto central. Chegaria pela cidade mineira que se chama sugestivamente Capitólio, conhecida também por Mar de Minas. Talvez o capitão seja o próprio Donald ou talvez o pato homônimo, o que explicaria a predileção de alguns patriotas pela Disney. 

Ilações, metáforas e bromas com gente que já rezou pra pneu e pediu intervenção de ETs à parte, a situação do Brasil é perigosíssima, porque, ao contrário do que aconteceu em 2022/23 hoje essa gente tem o apoio do grande irmão do norte, sem o que, como a história nos mostra, nenhum golpe prospera na América Latina. 

Assim, no dia em que se deve lembrar a passagem de 80 anos de  uma das maiores desgraças já promovidas pelo homem na face da terra, também devemos pensar na necessidade de manter o estado máximo de alerta para o que virá pela frente. Os golpistas não desistiram e não será um juiz ministro que vai segurar a onda fascista por muito tempo. Ministro que, aliás, talvez de fato ande se achando mais poderoso do que realmente é, porque resolveu criar uma crise com seus pares, que até então davam pleno apoio às suas ações. 

Parece que os efeitos alucinógenos da eleição presidencial de 2022 ainda não passaram. Será que basta apostar tudo num novo (ou no mesmo) Lula em 2026?

*Imagem de destaque: montagem feita pelo autor a partir de imagens disponibilizadas em https://www.vozdapovoa.com/noticias/politica/o-cogumelo-de-hiroshima-79-anos-depoishttps://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/10/bolsonaro-bate-continencia-a-bandeira-dos-eua-subserviencia.htmlhttps://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/flavio-bolsonaro-pl-costa-neto/. Acesso em 6/8/2025.

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