É melhor o Jair já ir se acostumando: ou quando os ratos abandonam o barco, nem o papagaio fica do lado do capitão
Jair Bolsonaro entrou no modo desespero. Vejam que eu não disse que o bolsonarismo entrou em modo desespero, nem mesmo que a campanha de Jair Bolsonaro entrou em modo desespero. Quem está apavorado é Jair Bolsonaro. Ele, a família miliciana e mais algumas pessoas. O bolsonarismo, ao contrário, está relativamente tranquilo. As eleições proporcionais e os resultados das majoritárias em alguns estados garantiram essa tranquilidade. Não é o próprio Bolsonaro que diz, como discurso de campanha, que o voto nele vai garantir a aprovação de pautas importantes, já que o congresso vai ter uma configuração favorável a partir de 2023? Ora, se é assim, e de certa forma é (o problema é que pautas são essas...), cada vez menos o bolsonarismo precisa de Bolsonaro. A bem da verdade, nem mesmo os filhos milicianos parecem estar tão preocupados. Fora uma que outra manobra criminosa do zero um, para não perder o hábito, como adulterar uma postagem do influenciador digital Casemiro, por onde andam os filhinhos do papai Messias? Flávio tem mais 4 anos de mandato como senador; Eduardo se reelegeu para a Câmara Federal; Carlos tem mais 2 anos pra fazer estripulias - e alguns crimezinhos, que ninguém é de ferro - na Câmara Municipal da cidade maravilhosa; Jair Renan, o que quase foi abortado, nunca gostou muito dos holofotes; de Laura, o fruto da fraquejada, pouco se sabe. A famiglia não terá problemas quando Jair for defenestrado. Já o patriarca...
Bolsonaro passou o dia de ontem em Minas Gerais e fontes bem informadas dizem que ao final da jornada estava bastante incomodado porque a campanha não decolou por lá. Já andava batendo cabeça com a sabotagem do posto ipiranga e a bomba, literal e metaforicamente falando, do parceirão Roberto Jefferson. Depois de Minas, a comitiva presidencial eleitoreira iria para o Rio de Janeiro, mas Alexandre de Moraes, o mesmo que foi elogiado quando pintou um clima, desta vez mandou mal, voltou a ser o Xandão de sempre, e inverteu o golpe. Em vez de investigar as notícias falsas de manipulação na propaganda eleitoral, mandou investigar a própria campanha, sob suspeita de crime eleitoral. A decisão do ministro não preocupa pelas suas próprias razões, afinal os bolsonaros têm amigos na PGR, o problema foi a rapidez com que ela foi tomada, que neutralizou o efeito de fumaça que as denúncias teriam.
Bolsonaro desistiu de ir para o Rio e voou direto pra Brasília. Dizem que espumava pela boca e convocou alguns ministros e os chefes da caserna. Queria ir pro pau, mas foi travado e fez um pronunciamento mais leve, pero no mucho. A câmera mostrou um Bolsonaro bem diferente do que é, visivelmente contrariado por ser obrigado a adotar um tom mais sereno. Mas também não era o personagem risível que ele tenta incorporar na propaganda política, quando fala mansinho e até tenta convencer com alguns sorrisinhos forçados. Falou em ir até as últimas consequências, mas dentro das 4 linhas da Constituição. O problema é que essas linhas são bastante flexíveis, ainda mais com o centrão na mão, ou no bolso. Entretanto, e aí é que está a grande novidade, Bolsonaro parece estar ficando isolado. O pronunciamento não deixou de trazer nas entrelinhas as ameaças de golpe, mas tudo indica que as forças que dariam amparo para ele já não estão tão convictas. E aí retomo a ideia inicial de que há pouca gente fechada (estar fechado lembra cadeia, enfim...) com Jair. Talvez seja melhor Jair já ir se acostumando. Por que as forças do centrão abraçariam esse rabo de foguete se conseguiram ampliar a base no congresso? Por que as elites econômicas dariam força se o governo de Lula não será do PT, como o próprio futuro presidente disse, e dele farão parte nomes importantes das agendas liberais?
Se a política é uma arte, é arte moderna e está mais para instalações em constante movimento, obra em construção, do que para quadros e painéis clássicos e estáticos. Assim, o que se diz hoje pode ser desdito amanhã ou mesmo em poucas horas. O panorama deste momento, que é o que é possível registrar, aponta que Bolsonaro sabe que a eleição está perdida e tenta desesperadamente manter seus apoios para uma aventura golpista como única saída. Só que as antigas parcerias estão mostrando a verdadeira cara e já tratam dos seus próprios interesses. Aposto algumas fichas que, se nada muito diferente acontecer entre hoje a amanhã, Sérgio Moro não terá no debate da Globo a mesma atuação que teve no da Band. Talvez nem apareça. Com oito anos de mandato pela frente, voltará a ser o rato que sempre foi e abandonará o barco, deixando o capitão sifudê sozinho, como diria Paulo Guedes.
Ah, sim, alguém tem notícia do papagaio da havan?
*Imagem copiada de: https://br.noticias.yahoo.com/cartas-pro-democracia-bolsonaro-isolado-eleicao-125349447.html. Acesso em: 27 de out. 2022.
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